Zika é sinônimo de incerteza. Mas microcefalia é comprovadamente uma calamidade. E, por isso, a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou uma rara emergência de saúde internacional. Nem a OMS nem ninguém sabe realmente se a zika causa microcefalia. Mas a correlação entre ambos foi considerada forte o suficiente para uma medida extrema. A microcefalia é tão devastadora que justifica uma ação desse tipo. O surto no Brasil é um “evento extraordinário”, nas palavras de Margaret Chan, a diretora-geral da OMS. Mesmo com todas as deficiências na notificação, ninguém põe em dúvida que os casos de microcefalia aumentaram significativamente. A dúvida é o quanto aumentaram.
Não há um só cientista no mundo que possa garantir e comprovar que a zika causa microcefalia. Mas há uma série de evidências nesse sentido. A primeira é a correlação no tempo e no espaço entre o vírus e o distúrbio. O aumento explosivo de casos de microcefalia coincide com o crescimento de casos de zika no Nordeste. O vírus ainda foi descoberto no líquido amniótico de fetos microcéfalos. Sinal forte, porém, não conclusivo.
Especialistas especulam que a zika pode ser um gatilho para deflagrar alguma condição genética específica. Isso explicaria por que só alguns fetos de mães infectadas sofrem problemas. Outra hipótese é que o próprio vírus seja mais agressivo do que o imaginado. Aí também impera a incerteza. Uma tese é o vírus ter sofrido mutação. Mas os exames genéticos indicam que não parece ser o caso. (Ana Lucia Azevedo/AG)