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Apesar de o discurso de perseguição por parte da imprensa ter sido mantido, o PT vai abordar o tema corrupção em seu congresso

Presidente da sigla, Rui Falcão cita o fim das doações como forma de recuperar credibilidade. (Foto: José Cruz/Abr)

No momento em que o PT é acusado pelos investigadores da Operação Lava-Jato de ter recebido propina de empresas fornecedoras da Petrobras por meio de doações oficiais de campanha, a corrupção é abordada em todas as teses das correntes do partido que serão apresentadas no congresso da legenda, de 11 a 13 de junho, em Salvador (BA).

Apesar de o discurso de perseguição por parte da imprensa ter sido mantido, os documentos admitem responsabilidades da direção da sigla nas irregularidades.

“As denúncias de corrupção – verdadeiras ou não – acabaram por golpear duramente a imagem do partido. Não podemos diluir nossas próprias responsabilidades na geleia geral em que se transformou grande parte do mundo político brasileiro”, afirma a tese do grupo majoritário PMB (Partido que Muda o Brasil), do qual faz parte João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso desde o dia 15 de abril, por envolvimento no escândalo da Petrobras.

O documento ainda acrescenta ser necessário o partido sair das “páginas policiais dos jornais”. A Mensagem ao Partido, outro grupo, destaca que a “corrupção ou conivência com a corrupção mina a própria identidade socialista do PT”. “Se antes era possível acusar um grupo ou uma corrente interna do PT por protagonizar as principais distorções que experimentamos no último período, hoje práticas que estão em desacordo com nossa ideologia, inclusive desvios éticos, atravessam a maioria das tendências”, diz a corrente Partido para Todos.

Para o cientista político Cláudio Couto, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), o reconhecimento de erros é benéfico para a sigla. “Finalmente, o partido faz uma autocrítica. Acho que isso começou a aparecer até pela piora das avaliações. Vai ficando cada vez mais complicado fingir que nada está acontecendo e que tudo é fruto de uma conspiração”, avaliou o especialista.

Recuperar credibilidade

Como resposta à corrupção, as teses petistas indicam, como já havia sido discutido em reunião pelo diretório nacional, que o partido deve proibir o recebimento de doações de empresas. Há divergências se o veto deve ser restrito aos diretórios ou também aos candidatos.

Em carta contendo suas avaliações, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, diz que o fim das doações serviria para “recuperar a credibilidade da política”. O dirigente diz que o partido sofre um massacre político e midiático por causa de seus acertos sociais, mas que falhas e insuficiências políticas não podem ser ignoradas.

Outro ponto comum nas teses petistas é a necessidade de construção de uma frente de esquerda, apoiada por partidos e, principalmente, movimentos sociais.

Reaproximação

Quem aproveitará o congresso do PT para ensaiar uma reaproximação com a sigla é a presidenta Dilma Rousseff. A relação entre ela e o partido sempre foi tensa, mas se deteriorou nos últimos meses. No início do segundo mandato, a governante demitiu o núcleo ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Palácio do Planalto, alijando representantes da corrente majoritária da sigla das principais decisões do governo. Além disso, nomeou Joaquim Levy (Fazenda) e Kátia Abreu (Agricultura), ministros criticados nas bases petistas.

Outra atitude de Dilma que causou irritação na cúpula da lagenda foi o cancelamento de seu pronunciamento no 1º de Maio, além de deixar de gravar para o programa do PT exibido em rede nacional de rádio e televisão.

No Planalto, a justificativa foi a de que ela queria se “descolar” da sigla em meio aos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Dirigentes petistas, porém, disseram que não a convidaram para gravar sua participação.

A presença da presidenta no congresso faz ainda parte da estratégia do governo de retomar aparições públicas dela, suspensas a médio prazo para blindar sua imagem em tempos de panelaço. O PT espera que, ao comparecer, Dilma “testemunhe” e “chancele” diversas bandeiras do partido que reaproximarão o PT e o governo de suas bases históricas.

Em meio ao ajuste fiscal, a chefe do Executivo será cobrada para retomar o crescimento econômico e vetar o projeto de lei sobre a terceirização. Além disso, ouvirá discussões sobre taxar heranças e o fim do fator previdenciário, temas caros ao governo federal.

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