Segunda-feira, 03 de março de 2025
Por Redação O Sul | 27 de janeiro de 2025
A Music AI, startup fundada por brasileiros nos EUA que está por trás do aplicativo Moises, anuncia nesta quarta, 22, que recebeu um investimento de US$ 40 milhões. A rodada série foi liderada pela Connect Ventures e Monashees, que já havia participado em 2022 do aporte de US$ 8,65 milhões. Na nova rodada também participaram Samsung Next, braço de investimentos da gigante sul-coreana, Toba Capital, Valutia e Pelion. Também fizeram parte da rodada o DJ Steve Aoki, e o produtor Freddy Wexler, que já trabalhou com nomes como Ariana Grande e Justin Bieber.
O Moises usa inteligência artificial (IA) para produção, criação e prática musical. Em dezembro, ele foi eleito pela Apple como o melhor aplicativo de 2024 para iPad no App Store Awards, primeira vez que um app nacional obteve o prêmio. Fundada nos EUA em 2019, a Music AI foi criado pelos brasileiros Geraldo Ramos, Eddie Hsu e Jardson Almeida – e o trio indicou ao Estadão que um novo aporte estava próximo.
“Além dos investidores institucionais, tivemos também um bom número de investidores estratégicos relevantes que vão nos ajudar nessa nova etapa de desenvolvimento”, diz Ramos em entrevista. Em 2023, o pernambucano de nascimento e paraibano de criação apareceu na lista do Estadão dos principais nomes do País no desenvolvimento de IA.
Embora seja baterista desde os 14 anos, Ramos, 39, entrou para valer na música profissional em 2019, quando fundou a Moises em Utah, EUA. Naquele ano, pesquisadores da plataforma de streaming Deezer publicaram o Spleeter, um algoritmo de código aberto que fazia “desmixagem” (ou “unmixing”), processo de separar os instrumentos de um arquivo de música já pronto. É um trabalho oposto ao de uma mixagem de música, que tenta acomodar todos os instrumentos em uma única pista. Ramos viu uma oportunidade.
Agora, com o aporte, ele espera explorar novos tipos de algoritmos. “Faremos investimentos maiores nos nossos produtos de IA generativa. No entanto, ao contrário de players como Suno e Udio, estamos focados em soluções mais colaborativas, voltadas para a co-criação entre IA e o músico ”, diz Ramos. A companhia já tem em testes uma IA generativa que criam instrumentos para acompanhar uma ideia. Por exemplo, é possível um humano registrar uma linha de guitarra e ver a IA gerar os outros instrumentos, como baixo e bateria.
“São como agentes que operam como instrumentistas e são condicionados pelo usuário. Por meio de prompts ou um áudio de referência, o usuário pode guiar a IA para criar a parte necessária conforme as instruções”, diz ele. Esse modelo deve ser lançado no primeiro trimestre desse ano.
Na boca dos famosos
No início, a companhia tinha um aplicativo que eliminava o vocal de canções, o que permitia brincar de karaokê, porém, os algoritmos evoluíram para isolar qualquer instrumento de uma canção. No entanto, desenvolvimento de soluções de IA da Moises foi muito além e, hoje, ela é um dos principais nomes da indústria musical a desenvolver ferramentas do tipo – todos os algoritmos da empresa são proprietários atualmente. Embora tenha ganhado o prêmio da Apple, as ferramentas da startup também funcionam fora do ecossistema da companhia da maçã.
Entre as soluções da companhia que usam IA estão masterização de música, clonagem de voz, identificador de acordes, detector de tom, mudança de velocidade, identificador de BPM, transposição de tom, removedor de voz e separador de instrumentos. Na onda da IA generativa, a Moises tem um gerador de letras de música, que podem ser utilizadas pelo compositor para achar melhor os caminhos da canção. Em breve, terá também a função de gerar partes de música, algo na linha da Suno AI – “mas com dados pelos quais pagamos pelos royalties”, avisa ele. Em agosto deste ano, as gravadoras Universal Music, Warner Music e Sony Music processaram a Suno por violação de direitos autorais.
Apesar de tantas capacidades, os recursos da Moises que chamaram a atenção desde a sua fundação é a capacidade de isolar instrumentos. No início, Ramos acreditava que seu principal mercado dentro da música era o educacional – seja por escolas de música (a startup fez uma parceria com a Berklee, uma das mais renomadas faculdades de música no mundo) ou músicos amadores, que desejavam treinar e aprender partes de instrumentos musicais.
Logo, músicos profissionais também aderiram ao app. O mais conhecido deles é o baterista Eloy Casagrande, que afirma ter usado o Moises para aprender e treinar o repertório do Slipknot. A entrada do ex-Sepultura em uma das principais bandas de metal do mundo é uma das histórias de maior barulho na música brasileira em 2024. Antes dele, o baterista Charles Gavin afirmou que usou o app para ensaiar o repertório da turnê de reunião dos Titãs em 2023. As informações são do portal Estadão.