Sexta-feira, 01 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de novembro de 2024
Apoiadores do ex-presidente boliviano Evo Morales ocuparam um quartel e fizeram 20 militares de reféns em Chapare, no departamento (estado) de Cochabamba, na Bolívia. A informação foi anunciada em comunicado pelas Forças Armadas, destacando que armas e munições também foram tomadas por “grupos armados irregulares”. Em um vídeo divulgado pela imprensa boliviana, 16 soldados podem ser vistos cercados por camponeses que empunham paus com pontas afiadas.
“Lembramos que qualquer pessoa que pegue em armas contra a pátria é considerada traição e levante armado contra a segurança e a soberania do Estado”, afirma o comunicado emitido pelo Alto Comando, destacando que o pessoal mantido como refém “são filhos do povo cumprindo seu dever sagrado com a pátria”.
A ação acontece em meio à instabilidade política no país, que há 19 dias vê uma onda de protestos maciços e bloqueio de estradas em resposta à suposta “perseguição judicial” contra Evo, que foi de aliado a inimigo do presidente Luis Arce no ano passado. O ex-presidente é investigado pelo suposto abuso de uma menor de idade durante seu mandato (2006-2019), acusação que ele nega.
Horas antes, vídeos que circularam na imprensa local e nas redes sociais mostraram cerca de 2 mil manifestantes invadindo o quartel militar do Regimento “Cacique Juan Maraza”, perto de Tipnis, como são conhecidos os territórios indígenas do Chapare, no departamento de Cochabamba, onde Evo Morales tem sua maior base política.
“O Regimento Cacique Maraza foi tomado pelas centrais de Tipnis. Eles [apoiadores de Evo] cortaram nossa água, nossa eletricidade e nos tomaram como reféns”, disse à AFP um militar, sob condição de anonimato.
Greve de fome
Embora os protestos tenham começado em defesa de Evo, agora os manifestantes também estão exigindo a renúncia do presidente Luis Arce, que não encontrou uma saída para a crise econômica decorrente da falta de dólares, restringindo as importações de combustível vendido pela Bolívia. Na quarta, Arce exigiu “o levantamento de todos os pontos de bloqueio”, ameaçando exercer “seus poderes constitucionais” para expulsar o grupo.
Nessa sexta-feira (1º), Evo Morales disse que iniciará uma greve de fome para pressionar o governo por um diálogo, com o objetivo de discutir questões econômicas, referente à escassez de moeda estrangeiras, e políticas, para negociar a libertação de manifestantes presos nos últimos dias.
“Para priorizar o diálogo, vou iniciar uma greve de fome até que o governo instale (…) mesas de diálogo. E para que o diálogo seja viável, responsável e tenha resultados, peço a participação de organismos internacionais de países amigos”, afirmou o ex-presidente em declarações à imprensa.
Arce foi ministro da Economia durante o governo de Evo e seu indicado para a presidência na primeira eleição após o golpe de Estado de 2019, em que o ex-presidente foi pressionado pelas Forças Armadas a renunciar e a senadora Jeanine Áñez ascendeu ao poder. A aliança entre os dois seguiu por um tempo, mas as ambições de Evo de disputar a próxima eleição presidencial, em 2025, levaram a um racha no Movimento ao Socialismo (Mas), que culminou na expulsão de Arce da sigla.
O tensionamento ganhou novos contornos depois que o Ministério Público pediu a prisão de Evo Morales no âmbito de uma investigação sobre o suposto abuso de uma menor de idade em 2015, quando era presidente. O ex-presidente classificou a acusação como “mais uma mentira” orquestrada pelo governo de Arce para tirá-lo da disputa presidencial, já que o caso foi encerrado em 2020.
Atentado
No domingo (24), Evo divulgou um vídeo nas redes sociais relatando ter sido alvo de um ataque a tiros durante uma tentativa de prisão. Nas imagens, Morales aparece ao lado do motorista e, pelo telefone, declara: “Estão atirando em nós, estão nos detendo; rapidamente, mobilizem-se”. O vídeo mostra marcas de tiros no veículo e o motorista ferido, com sangue na cabeça e no peito. Segundo a Rádio Kawsachun Coca, 14 tiros foram disparados. Após o incidente, o ex-mandatário, líder dos cocaleiros, exigiu a demissão dos ministros de Governo e de Defesa e relatou o episódio à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).