Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2024
Jair Bolsonaro (PL) deve se deparar com um dilema no segundo turno das eleições municipais. Após ver eleitos 56 aliados entre os 154 candidatos que tiveram seu apoio oficial, ele agora apoiará 26 nomes no pleito a ser realizado no dia 27 de outubro. Mas em 17 cidades o duelo se dará no campo da direita, o que deve aumentar o custo de um eventual envolvimento público na campanha dos aliados.
Em cidades diversas como Santos (SP), Goiânia, Imperatriz (MA) e Porto Velho, o PL bolsonarista vai confrontar partidos como Republicanos, União Brasil, Progressistas e Podemos, que muitas vezes disputam o eleitorado conservador com a sigla de Bolsonaro. Em outras, o ex-presidente pode melindrar governadores aliados ou lideranças locais que o apoiam.
Em Santos e São José do Rio Preto (SP), Bolsonaro está do lado oposto de um de seus companheiros mais próximos na política: seu ex-ministro da Infraestrutura e governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Rosana Valle (PL) e coronel Fabio Candido (PL) são apoiados pelo ex-presidente, enquanto Rogério Santos (Republicanos) e Itamar Borges (MDB) têm apostado na imagem de Tarcísio para vencer o pleito.
Já em Goiânia e na vizinha Aparecida de Goiânia, os candidatos oficialmente bolsonaristas vão enfrentar aliados do governador Ronaldo Caiado (União). Na capital, Fred Rodrigues (PL) terá duelo com Sandro Mabel (União), e no interior professor Alcides (PL) terá pela frente o “caiadista” Leandro Vilela (MDB).
Ao contrário de Tarcísio, no entanto, Caiado tem vivido relação conturbada com Bolsonaro enquanto se posiciona como presidenciável para 2026. A temperatura chegou ao máximo em setembro, quando o ex-presidente chamou o governador de “covarde” em comício realizado na capital goiana, sem citá-lo nominalmente. Caiado afirmou que a disputa com Bolsonaro não afeta sua candidatura e que, mesmo sem o apoio do PL, ele será candidato na próxima disputa presidencial.
Nada deve se comparar a Curitiba, no entanto, onde Bolsonaro injetou apoio de última hora na candidata Cristina Graeml (PMB), o que a garantiu no segundo turno contra a chapa de seu próprio correligionário, Paulo Eduardo Martins, vice de Eduardo Pimentel (PSD). Na cúpula do PL, a cidade é considerada um “estrago que já foi feito”, já que Bolsonaro deve manter o apoio à “bolsonarista informal” Graeml, e o episódio deu ao ex-presidente a pecha de traidor.
Bolsonaro têm emprestado pessoalmente seu capital político a aliados. Ele tem viajado o País para participar de carreatas e comícios com seus apadrinhados, mas sua participação não responde a um padrão — e sim pela facilidade de logística e afinidade pessoal, segundo dirigentes do PL. O ex-presidente tem marcado presença tanto em disputas em que o candidato bolsonarista está na frente quanto em cenários desfavoráveis, seja contra a esquerda ou contra a direita.
Em Anápolis (GO), por exemplo, Marcio Correa (PL) ficou por 0,41% de vencer o pleito no primeiro turno e deve levar a prefeitura com folga em 27 de outubro, mas contou com Bolsonaro numa carreata na semana passada. Já em João Pessoa, o prefeito Cícero Lucena (PP) é quem esteve por 0,84% de se eleger na primeira votação, e mesmo assim o ex-presidente esteve na quinta-feira passada, 17, no comício de seu ex-ministro da Saúde, Marcelo Queiroga — 27 pontos percentuais atrás do rival.
Candidatos têm recorrido a acenos ao eleitorado bolsonarista mesmo sem o carimbo oficial do ex-presidente. Léo Moraes (Podemos), em Porto Velho, por exemplo, divulgou ter sido contra a criação de um conselho estadual pró-LGBT e defendeu Pablo Marçal quando o candidato teve as redes sociais derrubadas pela Justiça Eleitoral. Já Rildo Amaral (PP), em Imperatriz, usou a imagem do ex-presidente americano Donald Trump numa publicação no Instagram e precisou rebater uma notícia falsa de que teria apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua campanha.
A presença unânime da direita no segundo turno dessas cidades dá algum conforto à cúpula do PL, que prefere encarar o cenário mais como predomínio do bolsonarismo do que como um racha. “Qualquer que seja o resultado, vai mostrar uma direita viva e um sentimento do PL com o que aspira a sociedade brasileira, e para a gente isso é extremamente relevante”, diz o senador pelo Rio Grande do Norte e secretário-geral do partido, Rogério Marinho.