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Após acordo, Câmara de Vereadores revoga lei que instituiu Dia do Patriota em Porto Alegre

Derrubada tramitou em regime de urgência, após acordo de líderes no Parlamento da capital gaúcha. (Foto: Fernando Antunes/CMPA)

Durante sessão plenária no início da noite dessa segunda-feira (28), a Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou a revogação da lei municipal que instituiu a data de 8 de janeiro como “Dia do Patriota” na capital gaúcha. O  placar foi de 30 votos pela derrubada e uma abstenção – a vitória estava prevista em acordo de líderes da Casa.

A decisão envolveu a tramitação ágil, nas comissões internas do Legislativo, de um projeto apresentado por Karen Santos (Psol) para anular a recém-criada lei, de autoria do então vereador Alexandre Bobadra (PL), cassado neste mês.

“O dia 8 de janeiro deste ano foi uma tentativa de golpe pela extrema direita. Homenagear esse dia é um absurdo”, declarou a parlamentar em alusão ao fato de que a iniciativa fazia alusão à data em que manifestantes vandalizaram as sedes dos Três Poderes em Brasília.

O presidente da Câmara, Hamilton Sossmeier (PTB), salientou a participação da maioria esmagadora dos vereadores na revogação: “É uma vitória da coletividade. Acompanhamos de perto, nos últimos dias, a repercussão negativa em nível nacional. E após a reunião de hoje, chegamos a um acordo, com a união dos vereadores, independente de partidos e questões ideológicas. Está revogada a lei”.

Supremo

Quando o Parlamento de Porto Alegre confirmou a extinção da lei do “Dia do Patriota”, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux já havia divulgado decisão no mesmo sentido:

“A Constituição Federal traz preceitos claros no sentido da vedação da atuação de parlamentares contra o Estado de Direito e a ordem democrática na parte em que dispõe que os partidos têm o dever de velar pela soberania nacional, o regime democrático e os direitos fundamentais da sociedade.”

Ele acrescentou: “Sob a máscara do amor à pátria, a lei aprovada exalta a atuação daqueles que notoriamente se colocaram em oposição aos valores constitucionais ao invadir e depredar as sedes dos três Poderes da República. Os atos [de 8 de janeiro] são um símbolo de que a aversão à democracia produz violência e desperta pulsões contrárias à tolerância. Isso não merece data comemorativa, mas repúdio constante, para que atitudes assim não se repitam”.

Relembre

Correligionário de Jair Bolsonaro, Alexandre Bobadra teve recentemente o seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS), por irregularidade na campanha política de 2020. É dele a autoria da proposta do “Dia do Patriota”.

Na exposição de motivos, em março, ele não mencionou o porquê da homenagem. As duas páginas do documento se limitavam a citar definições do conceito de patriotismo – que incluem manifestações do não menos polêmico “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho (1947-2022).

“Por que no Brasil quem se considera patriota torna-se motivo de chacota? O Brasil hoje enfrenta um perigoso processo de extinção do que é seu patriotismo. São diversas as vanguardas de ataque: a mídia, o ensino, as entidades globalistas, as universidades, a cultura militante”, acusa no texto de apresentação.

A matéria tramitou no Legislativo municipal até junho, período durante o qual foi submetido a três comissões permanentes da Casa, recebendo pareceres favoráveis – mas sem passar pelo Plenário (quando não há votação). Como o prefeito Sebastião Melo não sancionou e nem vetou, a proposta voltou à mesa do presidente da Câmara, que promulgou a lei no dia 7 de agosto.

O sinal-verde a uma lei municipal que vai na contramão de todo um esforço das autoridades federais para identificar e punir os responsáveis pelo quebra-quebra de 8 de janeiro repercutiu pessimamente, dentro e fora do Estado. Analistas políticos chegaram a mencionar a iniciativa com “um momento de vergonha” para os gaúchos.

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