O ano de 2023 terminou melhor do que começou para os grandes bancos brasileiros. Depois de um primeiro semestre complicado, em que o caso Americanas levou a provisões bilionárias e se somou a um ambiente difícil para o crédito, com risco de uma crise mais generalizada, os sinais de recuperação começaram a ficar mais claros nos últimos meses. Ainda que a atividade econômica seja um pouco mais fraca, as perspectivas para 2024 são melhores, com queda de juros, inflação controlada e projeções de retomada dos mercados de capitais.
Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil (BB) e Santander tiveram juntos um lucro consolidado de R$ 96,9 bilhões em 2023, com alta de 0,6%. O “empate” foi um bom resultado se comparado à retração de 7,3% no resultado combinado do ano anterior, quando parte das provisões para a crise da Americanas foi feita.
Os números também precisam ser vistos em perspectiva, já que Santander e Bradesco tiveram queda nos lucros, mas Itaú e BB apresentaram resultados melhores. Apesar dessas diferenças, algumas tendências são gerais.
Uma delas é que a inadimplência demorou mais que o previsto para ser debelada, mas começou a melhorar. “Podemos afirmar com todas as letras que finalmente controlamos a inadimplência”, disse na quarta-feira Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, banco que mais enfrentou dificuldades para domar os calotes.
Isso foi feito à custa de uma maior restrição na oferta de crédito. A carteira combinada de empréstimos e financiamentos dos quatro grandes avançou 4,9% no ano passado, para R$ 3,8 trilhões, abaixo do ritmo do mercado como um todo. Essa medida, aliada à mudança de “mix” – em direção a produtos mais seguros e, consequentemente, com juros menores – contribuiu para que a margem financeira bruta (antes de provisões) crescesse 11,5%, a R$ 316,9 bilhões. Dentro dessa linha, Bradesco e Santander ainda foram afetados pela margem de operações com o mercado, que reflete tesouraria e gestão de ativos e passivos. Nesses dois bancos, o indicador ficou negativo em boa parte do ano em consequência do ciclo de alta da Selic.
Ao mesmo tempo, a forte desaceleração em produtos mais arriscados, sobretudo cartão de crédito, pressionou as receitas de tarifas dos bancos. Elas já vinham em um cenário mais difícil com o aumento da competição, mudanças regulatórias e avanços tecnológicos, como Pix e “open finance”. Com esse fator e um ambiente difícil para as operações de mercado de capitais, que geram comissões, a receita de serviços cresceu apenas 2,9% – abaixo da inflação, portanto.
De outro lado, os bancos vêm tentando conter despesas, até inclusive com o fechamento de agências para reduzir o chamado “custo de servir” os clientes. Porém, têm feito investimentos pesados em tecnologia para modernizar seus sistemas e em geral lidam com reajustes salariais acima da inflação. Com isso, as despesas operacionais somadas aumentaram 8% no ano passado.
Maior banco privado da América Latina, o Itaú teve lucro recorde tanto no quarto trimestre como em 2023. Com uma clientela mais de alta renda que os rivais, sofreu menos com o ciclo de inadimplência e também tem um negócio mais diversificado. No ano passado, vendeu sua unidade na Argentina e atingiu a maioria das projeções para 2023. O único item que ficou fora do “guidance” foi o crescimento da carteira, que ficou abaixo do esperado em função, entre outros fatores, da variação cambial – o banco tem a maior exposição a outros países entre as instituições brasileiras.
“Olhando para frente, temos boas oportunidades de crescimento na carteira, incluindo em pessoa física”, afirmou Milton Maluhy.
Na outra ponta, o Bradesco vive um de seus momentos mais difíceis. No fim de 2023, trocou o CEO antes da idade de aposentadoria, quebrando uma tradição da casa. Assim, havia grande expectativa sobre o anúncio do novo plano estratégico para o banco que Noronha prometeu para esta semana. As medidas incluem simplificação na estrutura, mais tecnologia e uma aposta redobrada no crédito. Apesar de os analistas julgarem que o plano vai na direção correta, a perspectiva de recuperação lenta dos resultados levou as ações da instituição financeira a despencar e o banco foi ultrapassado pelo BTG Pactual em valor de mercado.
De acordo com Noronha, este será um ano de “transição”. E o sucesso da transformação permitirá melhorar a lucratividade, mas os sinais mais evidentes só virão a partir de 2025.
A situação do BB é mais parecida com a do Itaú, com menos exposição à baixa renda. O banco também é beneficiado pela carteira do agronegócio, segmento que bateu recordes no ano passado. A instituição ainda ganhou um impulso adicional do Patagonia, subsidiária na Argentina, que se beneficiou da desvalorização do peso.
Já o Santander conseguiu entrar numa trajetória de retomada, embora ainda enfrente dificuldades. O CEO, Mario Leão, vem adotando medidas para diversificar a receita e depender menos do crédito da baixa renda. No quarto trimestre, mais uma vez, o banco foi afetado pelas provisões para Americanas. A margem financeira até mostrou sinais melhores, mas uma elevação inesperada na inadimplência levantou incertezas sobre as tendências para a qualidade dos ativos.
Segundo Leão, as perspectivas para este ano são mais positivas. “A gente já entra em 2024 claramente com um cenário melhor de inadimplência, com o estoque mais antigo já quase totalmente digerido e as safras novas se comportando bem”, disse. As informações são do jornal Valor Econômico.