O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, apontou os “inimigos maliciosos e criminosos” do país como responsáveis por explosões que deixaram 95 mortos e 211 feridos perto do túmulo do comandante iraniano Qassem Soleimani na região central iraniana nesta quarta-feira, prometendo que “essa tragédia terá uma forte resposta”. O número de mortos foi inicialmente informado como 103, mas o ministro da Saúde do Irã, Bahram Eynollahi, disse que alguns nomes foram acidentalmente registrados duas vezes.
Apesar de Khamenei ter evitado especificar qualquer grupo ou nação pelo massacre, o presidente Ebrahim Raisi apontou o dedo para os arquirrivais de Teerã, dizendo aos “criminosos EUA e regime sionista (Israel) que pagarão um alto preço pelos crimes cometidos, e que se arrependerão”.
Em declarações transmitidas mais cedo, o ministro do Interior do Irã, Ahmad Vahdi, disse que os ataques foram um ato de “terror” feito para punir a posição iraniana contra o Estado judeu e “uma resposta ao ‘eixo de resistência’ à morte de mulheres e crianças inocentes” na Faixa de Gaza, referindo-se aos grupos e milícias pró-Irã e anti-Israel na região, incluindo no Iraque e Síria.
As declarações ao ataque, um dia após o assassinato no Líbano do número 2 da ala política do Hamas, que é apoiado por Teerã, são o mais recente sinal de que há o risco de a guerra de quase três meses entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico palestino virar um conflito regional.
Alvo na capital libanesa
Atribuído a forças israelenses, o ataque contra Saleh al-Arouri no sul de Beirute — reduto do movimento xiita libanês Hezbollah — foi o primeiro a atingir a capital libanesa desde o início da guerra de Israel contra o Hamas em 7 de outubro, quando o grupo lançou os piores ataques em solo israelense desde a formação do Estado judeu, em 1948, deixando 1,2 mil mortos e 250 reféns.
O Irã disse na terça que o assassinato de Arouri motivará a resistência contra Israel, enquanto o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou nesta quarta que a morte era uma “flagrante agressão israelense em Beirute”.
Sobre o ataque no Irã, Nasrallah disse que “o morto assusta mais [hoje] do que quando vivo”, afirmando que “Soleimani os assombra do túmulo”.
Na semana passada, o Irã acusou Israel de matar na Síria Seyyed Razi Mousavi, outro membro da Guarda Revolucionária — ex-colega de Soleimani —, também prometendo vingança. Perante as insinuações, o Ministério de Relações Exteriores de Israel disse que não faria comentários sobre as explosões. Já os EUA descartaram participação própria ou de Israel no ataque no Irã.
Risco de escalada
A expansão do conflito é uma preocupação central para governos envolvidos direta ou indiretamente na crise do Oriente Médio, como os EUA, que alertaram Israel que o ataque no Líbano — que também estimulou convocatórias para que cidadãos de Gaza e Cisjordânia se juntem à luta do Hamas — pode ter fechado a porta para uma negociação para libertação de reféns. Nesta quarta, o Egito, por exemplo, informou que congelou seu papel de mediador nas negociações entre Israel e o grupo palestino.
Já no Líbano, apesar de o presidente, Najib Mikati, ter denunciado na terça o ataque como “um crime” que violava a soberania do país, autoridades locais atuam nos bastidores para evitar uma escalada.
Segundo a especialista Maha Yahya, diretora do Carnegie Middle East Center, com sede em Beirute, “o risco de escalada é significativo, mas o Hezbollah se esforça para evitar ser arrastado para um conflito”.
Em Israel, as principais autoridades não admitiram diretamente o ataque em Beirute, mas o porta-voz militar Daniel Hagari disse que o país está em “um estado muito elevado de prontidão” para atacar ou se defender de qualquer ameaça.
“Estamos altamente preparados para qualquer cenário”, afirmou nas redes sociais. “A coisa mais importante a dizer é que estamos centrados em lutar contra o Hamas.”