Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de fevereiro de 2025
Cotados para concorrer à Presidência da República em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o empresário Pablo Marçal (PRTB) saíram em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) logo após ele ser alvo de denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) no inquérito que apura a tentativa de golpe. As manifestações de Tarcísio e de Marçal foram mais contundentes do que suas reações ao indiciamento da Polícia Federal (PF) contra Bolsonaro, em novembro, e evidenciaram uma disputa pelo espólio bolsonarista, na avaliação de cientistas políticos. Na contramão, outros governadores de direita optaram pelo silêncio, buscando evitar desgastes com o eleitorado não bolsonarista.
A denúncia da PGR aprofundou a percepção no entorno de Bolsonaro de que o ex-presidente, já condenado à inelegibilidade pela Justiça Eleitoral, dificilmente estará nas urnas em 2026. Tarcísio, porém, criticou a denúncia da PGR horas após sua divulgação, na terça-feira, e afirmou que “é um fato” que o ex-presidente não atuou em tramas antidemocráticas. Há cerca de três meses, quando a PF indiciou Bolsonaro pelas mesmas condutas, o governador havia dito que era preciso “ser muito responsável sobre acusações graves como essa” e que o caso contra o ex-presidente “carece de provas”, tentando defendê-lo sem confrontar abertamente as investigações.
Marçal, por sua vez, opinou na quarta-feira, em suas redes sociais, que “infelizmente” o ex-presidente será preso, mas urgiu seguidores a “pedir pelo Bolsonaro elegível em 2026”. O empresário afirmou ainda que vai “querer ele (Bolsonaro) de conselheiro” nas próximas eleições. Além da corrida presidencial, Marçal também tem aventado concorrer ao governo de São Paulo.
Para o cientista político Antonio Lavareda, diretor do Ipespe, Marçal e Tarcísio buscaram se solidarizar “de forma mais enfática” a Bolsonaro para “sair na frente” na corrida eleitoral.
“À medida que vai se formando o grid de largada para 2026, os eventuais concorrentes vão fazendo movimentos mais vigorosos, esperando ocupar as melhores posições. A falta de apoio explícito de Bolsonaro prejudicou Marçal na reta final (do primeiro turno) das eleições de São Paulo em 2024, e ele parece ter aprendido com essa experiência”, afirmou.
Embora Tarcísio seja tido como o favorito de Bolsonaro para substituí-lo na corrida ao Planalto em 2026, o ex-presidente tem insistido em marcar posição como candidato, interditando o avanço de outros nomes com sua benção. O governador de São Paulo, que diz publicamente ter interesse apenas em disputar a reeleição, vem sendo cada vez mais arrastado para a corrida ao Planalto, na visão de aliados, devido à inelegibilidade de Bolsonaro e também à recente queda de popularidade do presidente Lula (PT), algo que ampliou a perspectiva de vitória para a direita.
Tarcísio teve atritos com Marçal nas eleições de 2024, devido ao apoio do governador à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Nunes, que também se solidarizou a Bolsonaro na terça-feira, ficou à frente de Marçal por margem estreia de votos, em meio a uma participação tímida do ex-presidente na campanha.
À época, mesmo com a hesitação de Bolsonaro, Tarcísio disse que ex-coach era “porta de entrada” para uma vitória da esquerda. Marçal rebateu e disse que o governador iria “manchar sua carreira política” ao criticá-lo e que “teria um problema (eleitoral) muito sério” em 2026.
Passada a campanha, Marçal deu sinais ambíguos de sua relação com Tarcísio: recentemente, ele divulgou uma pesquisa eleitoral que o colocava na liderança para o governo de São Paulo, mas também afirmou que uma união entre ele mesmo, Tarcísio e Bolsonaro faria Lula “se aposentar” em 2026.
“Marçal e Tarcísio já deram sinais de independência em relação a Bolsonaro; por outro lado, ao se mostrarem solidários, fica mais fácil de convencer a comunidade bolsonarista a apoiá-los. Eles apenas parecem estar no mesmo campo, mas desde a aparição do Marçal na campanha de São Paulo estão em disputa constante entre si”, avaliou o cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP.
Silêncio de governadores
Outros presidenciáveis da direita, como os governadores Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, silenciaram sobre a denúncia da PGR. A postura repetiu o comportamento adotado à época do indiciamento da PF contra o ex-presidente, quando o trio — que vinha de atritos com candidatos do bolsonarismo nas eleições municipais — evitou emitir juízo.
Correligionário de Bolsonaro, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), afirmou que a denúncia deve se basear em “provas concretas” e que o Brasil “precisa de estabilidade e respeito às regras do jogo”.
Pesquisador do Centro de Estudos de Administração Pública e Governo da FGV, o cientista político Marco Antônio Teixeira avalia que os governadores buscam “medir o peso da opinião pública”.
“Os cálculos eleitorais de cada um e os litígios recentes justificam esse distanciamento, mas em algum momento eles precisarão buscar o apoio de Bolsonaro, porque vão precisar da direita em 2026.” As informações são do jornal O Globo.