Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de julho de 2023
Após denúncias de inscrições de falsos médicos, uma equipe do Conselho Federal de Medicina (CFM), de Brasília, faz uma vistoria no Setor de Inscrição de Pessoa Física do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).
Durante uma semana, eles ficarão na sede do órgão, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.
Outras carreiras
A quadrilha também negociava registros de outros cursos. Áudios obtidos pela Polícia Federal mostram a mulher apontada como a chefe da quadrilha negociando registros e diplomas de nível superior de várias carreiras.
Além de medicina, eles também ofereciam diplomas de enfermagem, biblioteconomia, educação física e pedagogia.
Nos áudios, Ana Maria Monteiro Neta conversa com clientes sobre a venda de diplomas.
Ana Maria: “Ei, João, bom dia. Então, educação física, se ele precisa de conselho ou não. Se é pra dar aula em academia, ou se é pra dar aula em escola normal. Isso aí que eu preciso saber pra ver o valor, entendeu?”
Na mesma conversa, de acordo com a PF, Ana Maria fala que o diploma de medicina custa R$ 120. O esquema contava até com um serviço de atendimento ao cliente.
De acordo com a PF, uma mulher que comprou um diploma de biblioteconomia procurou Ana Maria para ter uma solução para o seu problema.
Cliente: “Ô Ana, deixa eu te falar. Hoje eu fui dispensada da minha escola, porque quando eles foram averiguar, a inspetora foi averiguar a veracidade do meu diploma, aí quando entra com o CPF na própria universidade, aí aparece nenhum registro encontrado. O que você tem pra me falar? Ele me deu prazo até amanhã, 9h, pra provar a veracidade do diploma.”
Registros
O Fantástico, da TV Globo, revelou, com exclusividade, o escândalo dos falsos diplomas.
De acordo com os investigadores da Polícia Federal, 65 pessoas compraram diplomas fraudados e conseguiram registros profissionais de médicos no Conselho Regional de Medicina do Rio.
Muitas apresentaram documentos falsos como se fossem da Universidade do Estado da Bahia. E pagavam entre R$ 45 mil e R$ 400 mil para ter acesso à documentação.
O Conselho Regional de Medicina do Rio disse que mudou o processo de checagem, depois da descoberta da fraude.
Pelo menos três investigados pela compra dos falsos diplomas e pelo exercício ilegal da medicina trabalharam em unidades de saúde públicas no Rio de Janeiro.
Jonny Teixeira Carreiros é investigado por pagar R$ 80 mil para forjar uma formatura em medicina no Brasil. No começo do ano passado, trabalhou em um hospital e em um posto de saúde em Magé, na Baixada Fluminense. Em setembro de 2021, estava numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Teresópolis, na Região Serrana.
Atuou como médico até ser preso em fevereiro deste ano, enquanto trabalhava acompanhando um paciente. Ficou nove dias na cadeia.
Thais Rodrigues de Souza, outra investigada pela PF, apareceu no Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde como médica pediatra na UPA de Magé, que, na época, era estadual.
Sidnei Oliveira Lemes também é investigado pela PF por exercício ilegal da profissão e uso de documento falso.
Pelo Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde, em janeiro do ano passado, ele era médico estrategista de saúde da família em Mesquita.
No mês passado, a PF prendeu três integrantes da quadrilha: Valdelírio Barroso Lima, Reinaldo Santos Ramos e Francisco Gomes Inocêncio Júnior, que é médico mesmo. Ana Maria Monteiro Neta está foragida.
Citados
A defesa de Jonny Teixeira Carreiros disse que ele foi vítima de um golpe e não tem antecedentes criminais.
A prefeitura de Magé disse que Jonny Carreiros trabalhou de outubro do ano passado até fevereiro desse ano, quando pediu desligamento. E que no momento da contratação, o registro dele no Cremerj estava ativo.
Afirmou também que Thaís Rodrigues Souza fez apenas um plantão, em janeiro do ano passado na UPA de Magé, na época administrada pelo governo do estado.
A Secretaria Estadual de Saúde disse que não encontrou o nome de Thais Rodrigues de Souza entre os médicos que já atuaram na rede estadual.
A prefeitura de Mesquita informou que Sidnei Oliveira Lemes não chegou a trabalhar no município. Disse que o processo de contratação dele foi interrompido porque a inscrição no Cremerj estava inativa.
A prefeitura de Teresópolis está apurando o caso.