Depois de ser apontado como o maior perdedor das eleições legislativas de terça-feira (8), quando uma esperada “onda vermelha” republicana não se concretizou, o ex-presidente Donald Trump assumiu um posto outrora destinado por ele a seus desafetos: o de alvo de ataques e críticas dentro de seu próprio campo político. E muitos já questionam se ele deve mesmo ser o candidato da sigla à Presidência em 2024.
Assim que os primeiros resultados e projeções mostraram que alguns dos principais candidatos nos quais Trump apostou não conseguiriam se eleger — incluindo Mehmet Oz, postulante ao Senado na Pensilvânia, e candidatos aos governos de Michigan, Nova York e Wisconsin — comentaristas conservadores não demoraram a dar início ao processo de fritura.
“Os republicanos seguiram Donald Trump até a beira do abismo”, disse David Urban, que foi conselheiro do ex-presidente e está ligado à política da Pensilvânia, onde o candidato trumpista ao governo também foi derrotado.
O ex-deputado Peter King, também ligado a Trump, disse que “ele não deveria mais ser a face do Partido Republicano” e que a sigla “não pode se tornar um culto à personalidade”.
O coro de ataques foi replicado em veículos simpáticos aos republicanos, como a Fox News, mas, apesar da aparente vulnerabilidade, analistas e lideranças do partido dizem que é muito cedo para afirmar se ele sofrerá algum dano permanente: afinal, lembram, o ex-presidente construiu sua imagem e carreira política com a ajuda de controvérsias, polêmicas e a busca permanente por um estado de agitação. Sem contar que ele ainda tem seus aliados.
“Eu tenho orgulho de endossar Donald Trump para presidente em 2024”, afirmou, em comunicado, a deputada Elise Stefanik. “É hora dos republicanos se unirem ao redor do mais popular republicano nos EUA, que tem um histórico comprovado de um governo conservador.”
Em Ohio, J.D. Vance, uma das apostas vencedoras do ex-presidente para o Senado, também apoia mais uma indicação de Trump para a Presidência.
“Todos os anos, a imprensa escreve o obituário político de Donald Trump. E todo ano, rapidamente somos lembrados de que Trump ainda é a pessoa mais popular no Partido Republicano”, declarou.
Publicamente, Trump também celebrou alguns bons resultados de seus aliados, apontando para vitórias em disputas apertadas para o Senado, Câmara e governos estaduais.
“Nós tivemos um sucesso tremendo, por que deveríamos mudar algo?”, disse na quarta (9) à Fox News.
Mas, nos bastidores, apurou o New York Times, o ex-presidente foi menos positivo, atacando antigos aliados, como o comentarista Sean Hannity e até a sua mulher, Melania, por terem lhe dado “maus conselhos”, entre eles a decisão de apoiar o cirurgião-celebridade Mehmet Oz na Pensilvânia.
Integrantes de antigas campanhas republicanas também começam a se questionar se deveriam embarcar em uma nova empreitada de Trump — isso a menos de uma semana da data marcada para um “grande anúncio”, supostamente sua pré-candidatura a um novo mandato, no dia 15 de novembro.
“Ele precisa dar um tempo nisso”, disse à Fox News Kayleigh McEnany, ex-secretária de Imprensa e apoiadora de longa data de Trump, sugerindo que ao menos espere até a definição da disputa pela vaga no Senado na Geórgia, no mês que vem.
Há ainda disputas em aberto no Arizona, onde Kari Lake e Blake Masters estão em desvantagem, respectivamente, nas corridas para o governo e para o Senado. Os dois compartilham das ideias conspiracionistas do ex-presidente sobre o processo eleitoral. Nas disputas para a Câmara, nomes apoiados por Trump que nas primárias republicanas suplantaram nomes mais tradicionais do partido sofreram derrotas em eleições cruciais.
“Donald Trump fez com que as pessoas conseguissem as candidaturas, mas evitou que elas vencessem as eleições”, disse à Bloomberg o estrategista republicano Frank Luntz.
Ele apontou que, segundo pesquisas, eleitores independentes que normalmente votam em republicanos escolheram candidatos democratas na terça, justamente por causa do apoio do ex-presidente. Um sinal de que Trump cada vez mais fala apenas para sua base.