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Após derrotas no Congresso, Lula ressuscita núcleo de ação política

A ideia de ressuscitar o núcleo para avaliar estratégias de votação vinha sendo discutida há tempos. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai recriar o núcleo de coordenação política do governo, com reuniões semanais, e o colegiado poderá abrigar integrantes de outros partidos da base aliada, além do PT.

A decisão foi tomada após derrotas sofridas pelo Palácio do Planalto na sessão do Congresso da última semana, como o revés no caso da “saidinha” de presos do regime semiaberto para visitas a parentes.

A ideia de ressuscitar o núcleo para avaliar estratégias de votação vinha sendo discutida há tempos, como mostrou o Estadão, mas até agora Lula não achava necessário retomar essas discussões com periodicidade determinada.

Na prática, a proposta sempre ressurge depois que o governo perde votações importantes no Congresso e é traído por partidos de sua própria base, que comandam ministérios, como o União Brasil, o PP, o Republicanos, o PSD e o MDB.

“A gente espera que os partidos da base aliada votem sempre alinhados com o governo e isso implica numa atuação mais constante dos ministros junto às suas bancadas”, disse ao Estadão a deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. “Houve uma desconexão enorme e penso que o governo fará essa conversa com os partidos. Nós precisamos estar mais na ofensiva.”

Uma ala do PT defende mudanças na equipe e a substituição do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo, antes das eleições municipais de outubro.

Desafeto do ministro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não conversa com Padilha há seis meses. Há também uma pressão de aliados para que Lula troque o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).

Questionada sobre a necessidade de uma reforma ministerial, mexendo também nos líderes que negociam em nome do Planalto, Gleisi afirmou apenas que “mudanças no governo cabem ao presidente Lula”.

Umas das propostas sob avaliação do presidente prevê também que líderes de siglas aliadas, como MDB, PSD e o próprio União Brasil, participem desse núcleo, podendo haver um revezamento, conforme o tema da reunião.

O fiasco do governo no Congresso, contou com votos da base de sustentação de Lula. Na direção de três ministérios (Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional), o União Brasil, por exemplo, votou majoritariamente para derrubar o veto de Lula no projeto da “saidinha”. Somente na Câmara, o partido deu 54 votos contra a orientação de Lula e apenas um a favor. Houve três abstenções.

Há cerca de quinze dias, Lula mandou um recado a todos os líderes da Câmara e do Senado: avisou que considerava fundamental a manutenção da saída temporária de presos do regime semiaberto para visitar a família em datas comemorativas.

O assunto era tratado por ele como “questão de honra”. Mesmo assim, o Congresso derrubou o veto do presidente ao trecho do projeto que restringia as “saidinhas”.

Até agora, Lula dizia que o Legislativo havia aprovado tudo o que o governo queria. Nos bastidores, porém, ministros admitem que propostas econômicas, como arcabouço fiscal e reforma tributária, receberam sinal verde porque também interessavam aos redutos eleitorais da maioria dos parlamentares.

Em mais um revés para o Planalto, o Legislativo manteve, ainda, o veto do ex-presidente Jair Bolsonaro a uma parte da lei que incluía a “comunicação enganosa em massa” como crime contra o estado democrático de direito.

A leitura no PT e no Planalto é de que, diante disso, os adversários estão agora “liberados” para espalhar “fake news” na próxima campanha eleitoral.

Bolsonaro havia vetado o trecho que se referia à “comunicação enganosa em massa” em 2021, quando o Congresso revogou a Lei de Segurança Nacional (LSN) – editada na época da ditadura militar – e remeteu os crimes políticos para o Código Penal.

 

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