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Após eleições deste ano é que se saberá quais partidos ficarão com Lula

"Se o Lula tivesse, por exemplo, com 90% de aprovação, acho que ele poderia fazer uma opção pelo Haddad", diz França sobre o próximo candidato à presidência. (Foto: Reprodução)

Conhecido por articular palanques, o ex-governador de São Paulo e ministro da Micro e Pequena Empresa avalia que reforma ministerial vai se impor quando siglas da base precisarem escolher de que lado estarão em 2026: do presidente ou do bolsonarismo.

O senhor é do PSB, mas há ministros de outros partidos não alinhados ao governo. O modelo de coalizão está funcionando?

É difícil ser engenheiro de obra pronta. Nós chegamos até aqui com 95% de tudo o que mandamos aprovado. Então, não dá para dizer que não foi bem-sucedido. Mas a nossa angústia coletiva, dos políticos e jornalistas, se encerrará no final desse ano. Quando acaba a eleição de prefeito, começa a de governador e presidente. As nuvens vão se adensar para dois campos específicos: um liderado pelo governo de São Paulo (de Tarcísio de Freitas) e talvez a prefeitura de São Paulo (com a possível reeleição de Ricardo Nunes), contra o campo nacional (do governo Lula). Então, vários partidos que têm posições importantíssimas dentro do governo vão ter que tomar uma decisão difícil. Se o parlamentar vai mudar de partido e ficar com o governo federal ou se irá se embarcar na aventura paulista.

São Paulo será o contraponto? Como será esse jogo?

É muito difícil imaginar que alguém tiraria uma eleição do Lula. Depois de preso, todo arrebentado, todo chamuscado, ele ganhou uma eleição… Essa é a sensação, ainda mais em condições plenas, com poder na mão e sem o principal concorrente (Jair Bolsonaro) na disputa.

Será necessária uma nova reforma ministerial pós-eleições municipais?

Faz sentido, porque nós vamos para aquele afunilamento para ver quem vai ficar (com o governo). Hoje, por exemplo, o MDB é o adversário principal (do governo). Tem o candidato que teoricamente representa o bolsonarismo na capital em São Paulo. O MDB de São Paulo também controla o MDB nacional. O MDB também controla duas pastas vitais, do ponto de vista financeiro, Transportes e Cidades. Mesma coisa pode se dizer com relação ao PSD e União Brasil. Certamente, no pós-eleições, nós teremos necessidade de fazer o rearranjo. O MDB do Nordeste tem muita afinidade com o presidente Lula, mas não têm o controle numérico do partido.

O governo abriu espaço para o Centrão, mas tem sofrido derrotas no Congresso. Por quê?

O governo permitiu a desculpa que eles (parlamentares) queriam para poder votar a favor. Se eu não faço parte do governo, voto contra. Agora, se faço parte do governo, pelo menos um pouco eu voto a favor. Hoje, com esse número de padrão e valores de emendas, ter ministério ou não passou a ser um pouco secundário. O valor expressivo das emendas é muito mais decisivo para o efeito de ter rapidez e votação.

Alckmin (PSB) poderia ajudar mais na articulação política?

O Alckmin é um ser fora dos padrões naturais. Não tem um tipo de ambição. Não bebe, não fuma, não vai para restaurante, não tem hábitos de coisas normais. Claro que ele gostaria de continuar servindo. Estive com ele na China e pude perceber que, de toda a trajetória linda de vida, foi o ápice da carreira. Ele estava representando um país grande em conversa com o presidente da China. Ele é muito preparado, um estudioso, metódico, mas não avança um milímetro do farol. Imaginar que ele vai reivindicar algo para ele? Esqueça. Inegavelmente é um polo de atração do mundo empresarial. Mas ele não é um articulador de Congresso.

O senhor já disse que Lula “tem que ajudar a buscar opções” para um sucessor. O presidente reforçou esta semana que pode ser candidato em 2026. Isso atrapalha?

O coração do presidente, se pudesse escolher, seria o (Fernando) Haddad (ministro da Fazenda) o seu sucessor. A admiração que ele tem pelo Haddad, a correção do Haddad… O Haddad é idôneo, nos mesmos moldes do Alckmin. É radical. Agora, Lula é muito intuitivo. Ele sabe que talvez não seja fácil fazer esse movimento. Se o Lula tivesse, por exemplo, com 90% de aprovação, acho que ele poderia fazer uma opção pelo Haddad, mantém o vice e ele vai se recolher. Mas, quanto mais equilibrado, mais nós necessitamos do Lula. As informações são do jornal O Globo.

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