Sábado, 15 de março de 2025
Por Redação O Sul | 15 de março de 2025
Enchentes históricas castigaram todo o Estado em maio do ano passado
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência BrasilPor causa das enchentes de maio do ano passado, a Serra Gaúcha perdeu mais de 85% do estoque de carbono no solo de pomares da região. A reposição desse importante nutriente pode demorar de 14 a 40 anos.
As informações constam em um estudo divulgado pelo professor de agronomia da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) Gustavo Brunetto, durante o seminário RS Resiliência e Sustentabilidade, realizado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) na última sexta-feira (14). O evento discutiu temas relativos aos impactos das enchentes do ano passado, aspectos das mudanças climáticas e alternativas de soluções para encarar o cenário preocupante.
No caso do solo, Brunetto explicou que as inundações devem comprometer o trabalho dos produtores rurais para que busquem fertilidade nas plantações. Ele contextualizou que as cidades da Serra Gaúcha ficaram entre as regiões mais afetadas pelas chuvas em curto espaço de tempo.
“Isso estimulou o escoamento da água na superfície, a transferência de solo de partes mais altas para partes mais baixas e, com isso, nós tivemos importantes consequências e danos”, afirmou. O professor explicou que o primeiro dano foi a perda de solo, especialmente da camada superficial, já que nem toda a água conseguiu infiltrar. “Por isso, nós tivemos perda de nutrientes que normalmente estão no solo e que são fontes para as plantas, para que elas consigam crescer, produzir e ter um produto de qualidade.”
Parte da matéria orgânica e dos nutrientes foram para partes baixas do relevo e também, em alguns casos, em águas superficiais. “No futuro, isso poderá gerar contaminação da água. Esse dano ocorreu em virtude do excesso de precipitação. Tivemos perda de solo em áreas não cultivadas e também em áreas cultivadas”, disse o professor.
Ele avaliou também que, conforme um estudo feito em Bento Gonçalves, houve também a diminuição dos teores de fósforo nas áreas de deslizamento. “Se as áreas que foram degradadas pelo excesso de chuva forem incorporadas novamente à agricultura, o produtor vai ter que comprar mais fertilizante. Com isso, ele vai ter um aumento, provavelmente, do seu custo na propriedade”, afirmou. A perda de fósforo pode gerar a contaminação da água.
Soluções
O professor da UFSM explicou que, para repor nutrientes, é necessário conhecimento e investimento. Ele disse que são necessárias estratégias para que, no futuro, quando isso acontecer novamente, haja possibilidade de minimizar esse problema. Inclusive, ele apontou ser necessário haver o nivelamento do solo para que os produtores consigam novamente cultivar as suas áreas.
O pesquisador reiterou que o caminho é utilizar técnicas reconhecidas e aceitas na área da agronomia, como a calagem (prática para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio e fornecer cálcio e magnésio) e adubação. Ele defendeu práticas de manejo chamadas de conservacionistas.