O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, não somente tomou a iniciativa de expulsar de Manágua o embaixador brasileiro Breno de Souza Costa, como se antecipou à reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e retirou sua representante em Brasília, sob argumento de que ela ocupará um cargo no primeiro escalão no governo.
O regime de Ortega anunciou que a embaixadora Fulvia Castro será nomeada ministra de Economia Familiar. Ele optou por esvaziar sua representação no País, algo que o Brasil ainda hesita em fazer na capital nicaraguense.
Ortega foi quem tomou a iniciativa de protestar em relação ao governo brasileiro e agiu antes de Lula. Para o ditador, o Brasil boicotou a cerimônia pelos 45 anos da Revolução Sandinista ao não enviar um representante à celebração na Praça da Fé, no dia 19.
A festa reuniu o casal Daniel Ortega e Rosario Murillo e representantes de países alinhados como Cuba, Venezuela, Rússia, China, Irã, entre outros. Os embaixadores costumam ser convidados em nome de seus países. Em reação, Ortega comunicou a expulsão do diplomata e deu prazo de 15 dias para que deixasse o país.
O Itamaraty trabalhou nos bastidores para reverter a situação, mas não obteve resposta. O governo Lula considerou o ato uma “agressão” desproporcional.
Uma reação equivalente era esperada, e o regime de Ortega orientou a embaixadora Fulvia Castro a deixar a embaixada em Brasília. Funcionários relataram ao Estadão que ela trabalhou até quarta-feira e, na madrugada de quinta-feira, partiu em voo comercial. A diplomata deixou o País, portanto, antes de o chanceler Mauro Vieira se reunir com Lula, pela manhã, para oficializar a expulsão mútua, com base no princípio da reciprocidade.
O relato dos funcionários coincide com a informação de integrantes do corpo diplomático em Brasília, sobretudo de países centro-americanos com os quais ela mantinha relação mais próxima.
O Itamaraty não esclareceu como o aviso da expulsão foi enviado à embaixada. A pasta oficializou a decisão com uma nota à imprensa.
Os funcionários da representação nicaraguense que recebem esse tipo de documento disseram não ter registro de qualquer comunicação formal do Itamaraty, seja por via física ou digital.
Segundo eles, Castro era a única diplomata na representação em Brasília. Com sua saída, a chancelaria e a residência ficaram vazias. O expediente conta com somente três funcionários brasileiros. Eles dizem que as atividades foram suspensas e não receberam sinal de que Ortega enviará um substituto.
Se o ditador optou por esvaziar completamente sua representação, o governo brasileiro preferiu, por enquanto, manter em Manágua uma equipe diplomática de menor nível político, a ser chefiada por um encarregado de negócios, o diplomata Patrick Petiot. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.