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Política Após indiciamento de Bolsonaro, partido do ex-presidente bota a culpa em senador por causa de relatório contra as urnas eletrônicas

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O senador Marcos Pontes tem sido responsabilizado por lideranças do PL por ter indicado o Instituto Voto Legal para fiscalizar as urnas. (Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados)

Após o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa na investigação da trama golpista, integrantes do PL procuram achar um culpado pela iniciativa do partido de contestar o resultado das eleições de 2022 junto ao TSE.

O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação de Bolsonaro, tem sido responsabilizado por colegas de partido por ter indicado ao presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, o Instituto Voto Legal (IVL) para fiscalizar as urnas.

De acordo com a PF, o instituto elaborou um relatório apontando a possibilidade de fraudes na eleição, mesmo tendo constatado na verificação técnica que as urnas eram confiáveis e auditáveis. O documento do IVL foi usado pelo PL para pedir a anulação da vitória de Lula. O instituto é uma consultoria sediada em São Paulo e chefiada pelo engenheiro Carlos Rocha.

Para os investigadores, esse foi o “o último ato” oficial do grupo que pretendia impedir a posse de Lula e serviu de fundamento “para a tentativa de golpe de Estado, que estava em curso”.

Em depoimento prestado à Polícia Federal em fevereiro deste ano, Valdemar disse que “havia empresas capazes de exercer fiscalização das urnas” e que o então ministro Marcos Pontes “indicou que procurassem o Instituto Voto Legal, pois poderiam ajudar”.

Também afirmou que a contratação se deu em meados de 2022, com o objetivo de fiscalizar o andamento das eleições – um serviço que custou R$ 1 milhão pagos com recursos próprios do PL, de acordo com Valdemar.

Assim como Valdemar, Rocha acabou indiciado pela PF na investigação. A revelação de que o consultor falsificou as conclusões do relatório foi recebida no PL com irritação.

“O núcleo político da campanha do Bolsonaro sempre soube que não tinha nada nas urnas, quem forçou isso foi o núcleo militar”, diz um integrante do partido. “Quem apresentou o professor Carlos Rocha ao partido foi o astronauta, que dizia que ele era um gênio e ia constatar brechas nas urnas. Um discurso que gerou uma multa de R$ 22,9 milhões ao partido. Nunca entendemos qual era a do Carlos Rocha, nunca gostamos dele.”

O comentário diz respeito à multa aplicada à legenda em novembro de 2022 pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e depois confirmada pelo plenário da Corte, por litigância de má-fé, ou seja, acionar a Justiça de forma irresponsável.

Segundo o presidente do PL, porém, foi justamente a ala política do partido, que incluía parlamentares e o próprio Bolsonaro, que o pressionaram para ajuizar uma ação no TSE contestando o resultado das eleições.

Relatório 

O relatório da PF traz uma série de trocas de mensagens que mostram que a verificação conduzida por Rocha, na verdade, constatou que as urnas eletrônicas eram confiáveis, mas escreveu o contrário no relatório que baseou a representação do PL.

Pelas conversas captadas pela PF, os investigadores constataram que as hipóteses utilizadas por Rocha para lançar suspeitas infundadas sobre as urnas eram, na verdade, “teses de indícios de fraudes que circulavam pelas redes sociais, sem qualquer método científico”, fruto de um trabalho sem “rigor técnico”.

Semanas após a eleição, Rocha apresentou à legenda comandada por Valdemar Costa Neto um relatório afirmando que havia “inconsistências graves e insanáveis” nos modelos antigos de urnas do TSE.

Foi com base nesse documento que Valdemar pediu ao tribunal em 22 de novembro de 2022 a anulação dos resultados de mais de 250 mil urnas de modelo anterior a 2020.

Marcos Pontes confirmou que ajudou na aproximação de Rocha com Valdemar.

“Valdemar perguntou a mim, como ministro de Ciência e Tecnologia, se conhecia alguém que entendia da tecnologia das urnas. O profissional que eu sabia que tinha trabalhado com o desenvolvimento do equipamento era o engenheiro do ITA Carlos Rocha. Assim, passei o contato dele, e aí encerrou minha participação. Como ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, é comum você ser consultado sobre muitas áreas de desenvolvimento tecnológico para o país”, afirmou Pontes ao blog.

“Temos uma associação de ex-alunos que conecta todos nós. Através dela, ele havia me procurado como ministro e disse que tinha uma inovação incremental para aperfeiçoar a tecnologia que ele havia desenvolvido nos anos 90 (para as urnas). Não tínhamos no ministério nenhum projeto ou programa no setor. Mas fiquei com o contato dele associado a essa tecnologia. Foi esse contato que passei quando perguntado pelo presidente Valdemar.”

Rocha é formado pelo Instituto de Tecnologia da Aeronáutica, que nos anos 1990 participou do projeto de criação da urna eletrônica. Pontes, por sua vez, é engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, onde estudou de 1989 a 1993.

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