Quinta-feira, 09 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de agosto de 2023
O defensor alegou, ainda que usou dinheiro próprio, que não seguia ordens de Bolsonaro.
Foto: ReproduçãoO advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, confirmou nesta terça-feira (16) que recomprou o relógio da marca Rolex vendido por aliados do ex-chefe do Executivo brasileiro.
Entretanto a versão foi classificada como “fantasiosa” e “hilária” na Polícia Federal (PF). De acordo com os investigadores, Wassef buscou isentar seu cliente. Todavia a própria PF já tem provas indicando exatamente o contrário.
Durante entrevista concedida em um hotel de São Paulo, Wassef admitiu ter feito a recompra do Rolex recebido como presente oficial por Jair Bolsonaro e negociado ilegalmente nos Estados Unidos.
O defensor alegou, ainda que usou dinheiro próprio, que não seguia ordens de Bolsonaro nem do ex-ajudante de ordens Mauro Barbosa Cid e que devolveu o relógio para a União.
Investigadores da PF avaliam que assim como o advogado foi obrigado a admitir a recompra do presente oficial, eventualmente Wassef terá que dizer quem ordenou a transação. Com a colaboração do FBI, a Polícia Federal avalia que será possível descobrir o caminho do dinheiro usado para reaver o relógio.
A PF avalia que a versão de Wassef “não cola”. Como é o caso da justificativa dada por ele para fazer a compra em espécie, após sacar os valores de sua própria conta em Miami. Na avaliação dos investigadores, essa operação de resgate era justamente uma tentativa de não deixar rastros.
A compra foi localizada em uma joalheria da Pensilvânia. E confrontado com isso, chegou a apresentar o recibo com seu nome na coletiva desta terça.
A PF agora quer acessar o sigilo bancário de Wassef não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos. O caso é definido como “muito grave” por pessoas ligadas à investigação.
Entrevista
Durante coletiva de imprensa, Frederick Wassef salientou que viajou aos Estados Unidos e comprou um relógio Rolex em 14 de março deste ano como “presente ao governo brasileiro”. Wassef, no entanto, negou ter participado de uma “operação de resgate” da joia a mando do ex-assessor de Bolsonaro.
Em 15 de março, o TCU definiu prazo de cinco dias úteis para que Bolsonaro entregasse ao tribunal um kit com joias suíças da marca Chopard, em ouro branco, recebidas como presente do governo da Arábia Saudita em viagem oficial de 2019. A joia foi devolvida.
Na entrevista dessa terça, Wassef disse que a viagem que ele fez aos EUA já estava marcada antes de ele ter comprado o relógio e que a ida ao país “seria para fins pessoais”. A compra da joia, segundo o advogado, foi feita com dinheiro dele, “do meu banco”. Ele, contudo, não deixou claro se o modelo era o mesmo que foi vendido por Cid: “E se esse relógio for outro?”
“Usei do meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo quando comprei o relógio era cumprir decisão do Tribunal de Contas da União (TCU)”, disse. Wassef não deu detalhes. Segundo ele, a compra foi declarada à Receita Federal.
“O governo do Brasil me deve R$ 300 mil”, afirmou Wassef, enquanto mostrou um recibo de compra no valor de US$ 49 mil. “Eu fiz o relógio chegar ao governo”, afirmou o advogado sem, no entanto, explicar o caminho feito pela joia para retornar ao país.
Ainda, ele não disse quem o avisou sobre o relógio, mas afirmou que não foi um pedido que tenha partido de Bolsonaro ou de Cid.
“A história que assessores me escalaram é falsa”, disse Wassef, que negou ter amizade com Cid, afirmando ter com o ex-assessor de Bolsonaro “uma relação muito formal”.
O relógio, segundo ele, foi pago em espécie e por dois motivos: por ser uma forma de registrar quem fez a compra, seguindo legislação dos EUA, e para conseguir “desconto”.
“Consegui US$ 11 mil dólares [de desconto]. Se eu compro com cartão de crédito, pago no Brasil com 5% de IOF”, ressaltou.