Um dia após desautorizar o pouso da aeronave C 130 Hércules da Força Aérea Brasileira (FAB) em Caracas, com a missão de trazer cidadãos brasileiros de volta ao Brasil nesta sexta-feira (17), o presidente Nicolás Maduro voltou atrás e autorizou a operação. Com o sinal verde, o avião pôde decolar do aeroporto da capital venezuelana com 50 passageiros, e Maduro pôs fim ao que poderia se transformar em mais uma crise diplomática entre os governos dos dois países.
Do total de passageiros, 38 são servidores públicos, entre funcionários do Itamaraty e adidos militares e civis. Os demais são cidadãos brasileiros que pediram para ser repatriados.
O voo já estava previsto antes da pandemia de coronavírus, quando a partir de então autoridades de praticamente todo o mundo fecharam suas fronteiras para impedir a propagação da doença em seus respectivos países. Com a crise, ficou decidido que um grupo de cidadãos brasileiros que pediam para serem repatriados pegariam carona no avião.
Os servidores públicos que estavam na Venezuela foram encarregados de fechar as portas da embaixada e do consulado do Brasil, em um arremate no processo que culminou com o fim das relações diplomáticas do governo do presidente Jair Bolsonaro com o regime do líder chavista Nicolás Maduro.
As negociações com os venezuelanos foram conduzidas por militares que estavam em Caracas e diplomatas. Segundo um integrante do governo que participou das conversas, a equipe de Maduro alegava que o tipo de aeronave da FAB não se enquadrava nos padrões técnicos para pousos e decolagens no aeroporto de Caracas. “Uma firula de Maduro”, resumiu essa fonte.
Há pouco mais de um ano o Brasil, juntamente com os Estados Unidos e outros cerca de 50 países, anunciaram que reconheciam como presidente interino da Venezuela o líder da oposição Juan Guaidó. A mensagem era que, para Bolsonaro, a administração de Nicolás Maduro é ilegítima. Desde então, os contatos entre representantes dos dois países passaram a acontecer exclusivamente entre militares.
Há cerca de dois meses, o governo brasileiro determinou que os diplomatas que representavam Maduro em Brasília deixassem o país. Quem permanecesse passaria a ser considerado persona non grata. O Itamaraty também chamou de volta os servidores que estavam na Venezuela.
“Saí do interior e vim para Caracas, com a esperança de voltar ao Brasil. Agora, estou sem dinheiro até para comer”, disse o engenheiro eletrônico Alvin Enrique Principal Calles, que nasceu na Venezuela, mas tem nacionalidade brasileira.
Residente em São Paulo, Calles estava no interior da Venezuela com os pais. Seu voo, marcado para o dia 19 de março, foi cancelado.
“Recorri a uma pessoa da embaixada do Brasil, que disse que não tem condições de me ajudar”, completou.