A PF (Polícia Federal) rastreou depósitos de US$ 3 milhões feitos por lobistas a contas bancárias na Suíça que seriam parte de um acerto de propina com políticos do MDB do Senado, em troca de contratos na Petrobras. Dentre eles está Renan Calheiros (AL).
O relatório final da investigação traz detalhes sobre a engenharia financeira montada para pagar subornos ao partido e atribui o crime de corrupção passiva ao parlamentar, potencial candidato à presidência da Casa. Procurado pela imprensa, ele negou e disse que a acusação será rejeitada pela Justiça.
Segundo a PF, as propinas passaram por duas contas no país europeu, controladas pelo empresário brasileiro Walter Faria, dono do Grupo Petrópolis (da cervejaria Itaipava) e que por isso é acusado de lavagem de dinheiro.
O documento, assinado pelo delegado Thiago Delabary, foi enviado em caráter sigiloso ao STF (Supremo Tribunal Federal) no dia 6 de setembro. Uma semana depois, o ministro Edson Fachin encaminhou o material à PGR (Procuradoria-Geral da República), que ainda analisa se apresenta denúncia contra Calheiros e os demais investigados.
Calheiros – reeleito para o cargo de senador – até agora só foi denunciado uma vez na Operação Lava-Jato. A acusação foi feita pelo ex-PGR Rodrigo Janot mas acabou rejeitada pelo STF.
MDB
Segundo as investigações, o MDB recebia “comissões” de contratos da Diretoria Internacional da Petrobras, então comandada por Nestor Cerveró, apadrinhado do partido.
Em 2006, Cerveró acertou com a Samsung Heavy Industries a aquisição de dois navios-sonda pela Petrobras, no valor de US$ 1,2 bilhão, em troca de propina. Cerveró disse em sua delação que acertou repassar US$ 6 milhões dessas propinas ao grupo do MDB do Senado: Renan, o senador Jader Barbalho (PA) e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau.
A PF também apontou indícios de envolvimento do deputado federal Aníbal Gomes (MDB-CE) e de seu ex-assessor Luís Carlos Batista Sá. O relatório atribui o crime de corrupção passiva a Renan, Silas, Aníbal e Batista Sá. Em relação a Jader, a PF considerou as provas insuficientes. Todos negam as acusações.
Os repasses de propina foram operados por dois lobistas que admitiram suas participações: Júlio Camargo, um dos primeiros delatores da Lava-Jato, e Jorge Luz, que ainda negocia delação. Luz afirmou à PF que recebia de Batista Sá a indicação das contas na Suíça para onde deveria repassar a propina destinada aos políticos. A investigação descobriu que as duas contas pertenciam ao empresário Walter Faria.
Operação
A Polícia Federal recebeu do próprio empresário e dos dois lobistas toda a documentação relacionada às transferências de cerca de US$ 3 milhões às contas na Suíça. Para os investigadores, o dono da cervejaria emprestava as contas para doleiros depositarem recursos em troca de receberem os valores em reais no Brasil – operação conhecida como “dólar-cabo”.
Não há uma prova cabal de que os emedebistas tenham, de fato, recebido o dinheiro. A PF relaciona os extratos bancários com documentos apreendidos na casa de Batista Sá para concluir que os emedebistas foram beneficiados. A PF ressalva, porém, que as provas estão em uma “esfera indiciária”.
Os investigadores encontraram documentos de controle dos pagamentos aos políticos em um HD na casa de Batista Sá, que seria o organizador da propina. Nos arquivos, havia o comprovante de um dos depósitos na Suíça feito por Jorge Luz e planilhas com siglas, codinomes e valores.
A PF conclui que era “um controle sobre a divisão de valores envolvendo três destinatários, em que algumas quantias são comprovadamente coincidentes com operações efetivadas entre contas de Jorge Luz e de Walter Faria”. Ainda segundo a Polícia Federal, Renan está na planilha sob a sigla RC, com valor de US$ 350 mil.
Sem “falcatrua”
Procurada, a assessoria de Renan afirmou que ele“não vê Jorge Luz há mais de 20 anos, não conhece seu filho, não tem conta no exterior, não conhece os donatários das contas e nunca teve negócios com ele e com ninguém”. Disse ainda que “investigação nenhuma comprovará sua participação com qualquer tipo de falcatrua, conta no exterior ou com o recebimento de dinheiro através de terceiros”.