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Após reforma trabalhista, sindicatos demitem para sobreviver

Deputados da oposição protestam no plenário. (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

O fim da contribuição sindical obrigatória, extinta com a reforma trabalhista, forçou centrais e sindicatos a se adaptarem aos novos tempos de vacas mais magras. Eles têm demitido, vendido ativos e organizado PDVs (planos de demissão voluntária) para se adequar a uma perda estimada em um terço da receita. Até 2018, 100 mil trabalhadores diretos e indiretos devem ser afetados, estima o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

A estrutura sindical reúne cerca de 300 mil trabalhadores em todo o País, segundo o Dieese. Desse total, 115 mil são funcionários diretos e o restante presta serviços às entidades. Os cortes devem ser diluídos no próximo mês e ao longo do ano que vem. Mas eles começaram já neste ano.

O Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que tinha 600 empregados, organizou há dois meses um PDV, que teve adesão de 67 deles. Mas isso não evitou outras 35 demissões. “Se a perda é estimada em um terço da receita, cerca de 100 mil trabalhadores podem ser afetados até o fim de 2018. O sindicato vai ser obrigado a demitir e a transformar funcionários diretos em prestadores”, avalia Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.

Mesmo a instituição, que é justamente mantida com recursos sindicais, espera um orçamento menor para 2018. Neste ano, é de R$ 45 milhões. Em 2018, no mais otimista dos cenários, será de R$ 30 milhões. O próprio Dieese, portanto, que compila estatísticas de emprego e custo de vida, estuda que quais pesquisas conseguirá manter a partir de 2018.

Associados

Além da perda da contribuição sindical, as entidades já tinham de trabalhar com uma realidade mais dura. O Sintracon-SP (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo), por exemplo, viu seu número de associados desabar com a perda de postos da construção na crise. A entidade tinha 230 funcionários no início do ano. Agora, são 158.

Uma das estratégias das entidades é “voltar para a rua”, para aumentar a receita com novas filiações, inclusive transferindo parte dos funcionários da sede para as equipes que vão até os locais de trabalho e têm contato direto com os trabalhadores. “O impacto é grande, mas a contribuição obrigatória tinha de acabar mesmo. Não era uma coisa justa e só servia para alimentar alguns sindicatos que faziam muito pouco. A contribuição precisa ser discutida”, diz Antonio de Sousa Ramalho, presidente do Sintracon-SP.

As principais centrais apoiam um projeto de lei que regulariza a contribuição negocial em substituição ao imposto sindical. Elas também sentem o fim do recurso obrigatório. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) organiza um PDV e a UGT (União Geral dos Trabalhadores) demitiu funcionários e vai para uma sede menor.

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