Terça-feira, 24 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de outubro de 2024
A Coreia do Sul ganhou vários Oscars. Suas séries e grupos de K-pop são sucessos globais. A escritora Han Kang é a primeira mulher asiática a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Como o país se tornou uma potência cultural?
Na década de 1990, séries de televisão coreanas e bandas de K-pop começaram a entrar nos mercados de países asiáticos como China e Japão, dando início à “Hallyu”, a onda sul-coreana. O lançamento em 2012 do sucesso global “Gangnam Style”, do cantor Psy, consolidou esse fenômeno.
Na década seguinte, “Babyshark” quebrou recordes de visualizações no YouTube e os membros do grupo de K-pop BTS tornaram-se superestrelas globais, conseguindo abrir espaços até nos países da América Latina.
Em 2020, “Parasita” de Bong Joon-ho foi o primeiro longa não interpretado em inglês a ganhar o Oscar de Melhor Filme, e “Round 6” se tornou a série em idioma diferente do inglês mais vista na Netflix.
As exportações culturais da Coreia do Sul totalizaram US$ 13,2 bilhões em 2022 (R$ 68,8 bilhões na cotação da época), mais do que eletrodomésticos ou veículos elétricos, mas a maior parte deste volume corresponde à indústria de jogos eletrônicos, que é muito popular na Índia e no Paquistão.
O governo sul-coreano pretende chegar aos US$ 25 bilhões em exportações culturais até 2027 (R$ 139 bilhões na cotação atual), com novos mercados como a Europa e o Oriente Médio na mira.
Por que a Coreia do Sul? Para Bong Joon-ho, diretor de “Parasita”, a chave do sucesso está no fato de todos os habitantes da Coreia do Sul terem vivido “tempos dramáticos”.
Após a Guerra da Coreia, um conflito entre Seul e Pyongyang iniciado em 1950 e ainda não solucionado, o país sofreu uma ditadura militar, antes de experimentar um boom econômico radical e a transição para a democracia.
Na Coreia do Sul, muitas pessoas “viveram turbulências e experiências extremas”, explica Bong. Portanto, “nossos filmes não podem ser diferentes”.
Onda literária
O trabalho da romancista Han Kang, de 53 anos, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura na quinta-feira (10), foi a arte de transformar a história contemporânea em literatura.
Han diz que foi uma experiência transformadora saber mais sobre o massacre de 1980 na sua cidade natal, Gwangju, onde os militares reprimiram violentamente um protesto pró-democracia. A autora conta que seu pai lhe mostrou fotos dos corpos, que inspiraram seu livro “Atos Humanos”.
Muitos autores sul-coreanos mergulharam no passado traumático do país, mas Han também conseguiu estabelecer uma “estética literária marcante” própria, diz Oh Hyung-yup, acadêmico da Universidade da Coreia e crítico literário.
O romance “A Vegetariana”, o mais famoso de Han, descreve as consequências violentas e a rejeição brutal enfrentadas por uma mulher que decide parar de comer carne. O livro é considerado um marco do ecofeminismo.
A autora documentou comportamentos “que antes eram considerados simplesmente passivos e lhes deu um significado totalmente novo”, explica Kang Ji-hee, crítico literário sul-coreano, à agência de notícias AFP.
Qual é o papel do governo? Este boom cultural, do cinema à alimentação, parece fazer parte de um plano, mas embora o governo sul-coreano tenha investido milhões para apoiar a sua indústria, os especialistas dizem que este sucesso ocorreu apesar, e não por causa, do papel do Estado.
Han e Bong estiveram em uma “lista negativa” durante o mandato da ex-presidente Park Geun-hye, que governou entre 2013 e 2017, por criticarem o Executivo.
O governo teve algumas iniciativas, como o Instituto de Tradução Literária da Coreia, que podem ter dado frutos, ajudando a levar obras como a de Han a um público global.
No entanto, ao mesmo tempo um número crescente de tradutores que ousaram escolher outros autores também contribuiu para trazer propostas mais ousadas ao mercado internacional.
O sucesso das bandas de K-pop também serviu de impulso para outros setores, uma vez que os hábitos de leitura desses cantores impulsionaram as vendas da literatura sul-coreana.
Para Bong, outra chave é o hábito de beber dos seus compatriotas, que alimenta a sua criatividade.
“Somos um país de viciados em trabalho. As pessoas trabalham demais e, ao mesmo tempo, bebemos demais. Então, todas as noites, nos entregamos a rodadas de bebida excessiva e é tudo muito extremo”, disse ele. As informações são da agência de notícias AFP.