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Apple construiu um império com a China, mas parceria entre as gigantes pode estar ruindo

As vendas recuaram 5% no trimestre, para US$ 117,2 bilhões, com queda em todas as partes do mundo. (Foto: Reprodução)

Todo mês de setembro, a Apple apresenta novos smartphones em seu campus futurista no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos. Algumas semanas depois, dezenas de milhões de seus aparelhos mais recentes, montados por legiões de trabalhadores sazonais contratados por seus fornecedores, são enviados de fábricas chinesas para clientes do mundo todo.

O lançamento anual do iPhone da Apple geralmente funciona como um mecanismo muito bem ajustado, um excelente exemplo de como a gigante de tecnologia dos Estados Unidos se tornou a empresa mais lucrativa da era da globalização por saber se aproveitar perfeitamente das maiores economias do mundo.

Mas, neste ano, o lançamento do iPhone 14 foi a mais recente vítima das crescentes dificuldades de produzir na China. A abordagem irrestrita de Pequim para deter a covid-19 e o aumento das tensões com os Estados Unidos forçaram a Apple a reexaminar os principais aspectos de seus negócios.

Um recente surto de casos de coronavírus na região da maior fábrica de iPhones da Apple, em Zhengzhou, no centro da China, levou as autoridades locais a ordenar um lockdown de sete dias na semana passada. Como resultado, a empresa disse no domingo que não conseguirá produzir celulares suficientes para atender às demandas da temporada de festas de fim de ano.

Geopolítica

Durante grande parte deste ano, a Apple também foi o foco de uma intervenção bipartidária em Washington, onde o alerta diante das provocações militares e ambições tecnológicas de Pequim derrubou a ortodoxia sobre o livre comércio.

Em março, surgiram rumores de que a Apple estava em negociações com uma obscura fabricante chinesa de chips de memória, a Yangtze Memory Technology Corporation, ou YMTC, para fornecer componentes para o iPhone 14.

Isso colidiu com o trabalho feito por uma coalizão de parlamentares e mais de uma dúzia de assessores do Congresso americano, que passaram meses examinando os prós e contras da cadeia de suprimentos da Apple na China. No mês passado, o Departamento de Comércio emitiu restrições que proibiam as empresas americanas de vender maquinário para a YMTC, dificultando para a Apple avançar com o acordo.

A Apple confirmou publicamente que conversou com a YMTC, que não respondeu aos pedidos de comentários. Mas um porta-voz da Apple se recusou a comentar se a empresa havia abandonado a possibilidade de trabalhar com a fabricante chinesa.

Os acontecimentos recentes ressaltam como os laços estreitos da Apple com a China, antes considerados uma força de seus negócios, se transformaram em ponto fraco.

“A Apple está descobrindo que é a geopolítica que define os modelos de negócios – e não o contrário”, disse Matthew Turpin, pesquisador visitante da Hoover Institution especializado em política americana em relação à China. “Toda essa coleção de riscos da cadeia de suprimentos está criando um grande problema para eles”.

O líder da China, Xi Jinping, forçou os líderes empresariais a reconsiderar antigos pressupostos sobre a operação no país. Por várias décadas, o crescimento econômico foi a principal prioridade do governo chinês. Mas Xi usou um importante congresso do Partido Comunista no mês passado para deixar claro que as questões de segurança e os pontos de vista mais ideológicos do partido teriam precedência sobre as preocupações comerciais.

A política de “covid zero” de Xi desacelerou a produção fabril e estrangulou o crescimento econômico do país, e seu governo enfrentou pressão de mercados e líderes empresariais para aliviar as restrições. Mas não sinalizou claramente que fará qualquer mudança.

Vendas 

Afrouxar as restrições da covid pode permitir que a Apple atenda a parte da demanda, mas a empresa ainda perderá vendas nesta temporada de festas, disse Jeff Fieldhack, analista da Counterpoint Research, uma empresa de pesquisa de tecnologia.

Seria difícil para a Apple se desvencilhar da China. A empresa passou duas décadas trabalhando com parceiros para construir fábricas enormes, apoiadas por uma vasta rede de fornecedores no país. Com o tempo, foi adicionando mais componentes chineses aos seus produtos e se beneficiou de seus preços mais baixos.

Em uma tentativa de limitar sua exposição à China, a Apple começou a fabricar uma pequena porcentagem de seus mais novos iPhones na Índia e transferiu a produção de vários outros produtos para o Vietnã. Mas ambos os mercados oferecem fábricas com apenas dezenas de milhares de trabalhadores – uma pequena fração da escala de que a Apple desfruta na China, onde seus parceiros empregam cerca de três milhões de trabalhadores.

A Apple depende de fábricas como de Zhengzhou, que é operada pela Foxconn, sua maior parceira de montagem. Quando os casos de covid-19 começaram a aumentar na área, a Foxconn fechou seus cerca de 200 mil trabalhadores dentro de uma fábrica que pode produzir até 85% dos iPhones do mundo todo, de acordo com a Counterpoint Research. Não demorou muito para que a covid começasse a se espalhar e a Foxconn enfrentasse dificuldades para equilibrar as demandas de negócios com a rígida política pandêmica do país.

Quando as histórias de agitação e escassez de alimentos inundaram as mídias sociais chinesas, os trabalhadores começaram a temer por suas vidas. Centenas fugiram. A montadora inicialmente ofereceu aos trabalhadores US$ 14 extras por dia para continuarem trabalhando. Mais tarde, quase quadruplicou esse valor, para US$ 55 por dia.

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