Volto aos clássicos. E de novo a Machado. Digamos que “sou (a)feito a Machado”. Todos já devem ter lido os conselhos que um pai dá ao seu filho Janjão ao completar 21 anos: você que tem inópia mental, será um medalhão. Em síntese, o pai diz ao seu filho que ele será um idiota com chances de se dar bem. Confiram no conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis.
Preocupados em medir a burrice humana, um pool de Universidades (Shimun University, Scheißwald Universität e Universidad de Matocagao III) e Institutos (Imperial Instituto Brás Cubas e Navah Institute) está pesquisando o tema.
Na verdade, o disparo foi dado pela foto do frontispício desta coluna hebdomadária. Os cientistas-professores dessas universidades ficaram com a foto. Por isso acharam que estava na hora de pesquisar o assunto. Com efeito, pouco ou nada se sabe acerca dos limites da burrice e da inópia. Há muita opinião fruto de intituivismo, mas não há dados empíricos concretos.
Miremos bem a foto de novo. Os pesquisadores ficaram horas observando. Será a estultice uma ciência? Se sim, então é possível aprender a ser estulto, burro, néscio?
Voluntários serão submetidos a aulas com currículo como “negacionismo I, II e III”, “formação de grupos de whatsapp I, II e III” e coisas desse jaez. Ao final, a pesquisa buscará responder à pergunta: o participante saiu mais burro do que entrou? Outra equipe analisará simplesmente alunos de algumas faculdades, como participantes passivos.
O texto base para o pool que fará as pesquisas é Teoria do Medalhão, de Machado. Haverá teste sobre o conto. Aquele participante que não entender já irá para a classificação sênior. Pulará etapas.
Fazendo uma epistemologia sobre a imagem acima e falando, agora, a sério, digo que não concordo com a frase “uma imagem vale mais que mil palavras”. Uma palavra é que vale mais que mil imagens.
Como chegamos a esse ponto? Como é possível que tenha virado normal a cena de um policial tirando foto de um reacionário pedindo “julgamento militar” (sic) para ministros do STF? Julgamento militar? Golpe? Do que esse sujeito está falando? E o policial achou bonito? Que nada seja onde fracassa a palavra, dizia meu poeta preferido.
E aí há não há discurso público. Não temos uma linguagem compartilhada. Não falamos as mesmas coisas. Na nossa Babel, é aceitável vermos cenas como essas. Porque perdemos a capacidade de comunicação. E de indignação. Prova disso é a inutilidade desta coluna. O sujeito da foto é que está certo, dirão alguns.
O filósofo Heidegger chamava a isso de Gerede, tagarelice. Falatório. O problema é que só há falatório. E aí aquele que tenta reconstruir a história institucional do nosso vocabulário é que está errado. Claro: num país de fugitivos, como é visto quem anda na contramão? O solipsismo venceu. O homem comum, o solus ipse, o viciado em si mesmo, ganhou a parada.
I rest my case!