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Apurações de acidentes aéreos no País levam mais de 2 anos

A retirada dos corpos do local da tragédia foi concluída. (Foto: FAB/Divulgação)

Os relatórios finais do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) levam, em média, 1.001 dias, ou 2 anos e 7 meses, para serem divulgados. É o que mostra a análise de 1,8 mil ocorrências registradas no Brasil desde 2007. O órgão do Comando da Aeronáutica apura as causas da tragédia com o avião da Voepass que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo. Dados do próprio Cenipa indicam que um terço dos acidentes aéreos com mortes no País é provocado pela perda de controle da aeronave em voo. Foram 124 casos em 388 ocorrências entre aviação comercial, privada, de instrução e militar, nos últimos dez anos. No sábado (10), a Voepass atualizou para 62 o número de mortos no acidente. Um passageiro foi deixado de fora da lista de embarque, e a empresa alegou problemas no checkin. A retirada dos corpos do local da tragédia foi concluída.

As causas do acidente com o avião da Voepass, que vitimou 58 passageiros e 4 tripulantes ao cair na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, na sexta-feira, são discutidas por pilotos, especialistas, profissionais e leigos no assunto. Mas os investigadores do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já avisaram que não há prazo definido para uma conclusão – nem pressa. Os relatórios finais do órgão costumam levar, em média, 1.001 dias, cerca de 2 anos e 7 meses, para serem divulgados, conforme a análise dos 1.833 acidentes mais recentes em solo brasileiro (desde 2007).

Um terço dos acidentes aéreos fatais com vítimas no País é causado pela perda de controle da aeronave em voo. Nos últimos dez anos, de 2014 a 2024, foram 388 ocorrências com mortos, entre aviação comercial, privada, de instrução e militar. Desses, 124 – o que representa 30% de todos os casos – foram motivados pela perda de controle dos aviões, segundo dados do Cenipa.

As investigações não buscam apontar um “culpado” pelo acidente e levam em consideração desde a situação climática no dia da ocorrência – como a possibilidade de gelo severo, indicada em mapas do dia da tragédia – até os fatores psicológicos da tripulação; e podem envolver ainda o fato de que a aeronave estava em aproximação de Cumbica.

Esse processo minucioso é conduzido pela Força Aérea com o apoio de técnicos da fabricante da aeronave, operadores e entidades ligadas à aviação, como sindicatos e entidades de classe – no caso, técnicos da empresa francesa ATR e do fornecedor do motor, canadense, vêm ao Brasil para participar das apurações. O objetivo é prevenir novos acidentes e formular recomendações de segurança para evitar que casos semelhantes se repitam.

Na primeira entrevista após a queda do avião da Voepass, o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, explicou que o objetivo da investigação é “entregar recomendações de segurança para o transporte aéreo” e não há prazo para conclusão. Segundo o militar, os investigadores trabalham com o princípio da máxima eficácia preventiva, o que explica o longo tempo de trabalho. O prazo para conclusão ainda dependerá das caixas-pretas, cujos dados estão sendo extraídos.

“O Estado brasileiro tem duas grandes responsabilidades. Primeiro, a investigação judicial ou investigação criminal conduzida pela Polícia Federal e pelas polícias estaduais. Essa investigação busca responsabilização, busca culpabilização e trabalha na produção de provas, com contraditório para defesas. A outra grande responsabilidade do Estado é a investigação aeronáutica conduzida pela autoridade de investigação civil da Força Aérea Brasileira, cujo objetivo é entregar a segurança para a sociedade no transporte. O objetivo é emitir recomendações de segurança de voo para entregar segurança para a sociedade”, afirmou.

Apesar da conclusão demorar, informações preliminares podem surgir. No caso da tragédia da TAM, em 17 de julho de 2007, quando havia grande pressão sobre o sistema aéreo após acidentes e crises em série, o áudio dos pilotos foi divulgado em 15 dias. No entanto, o relatório final só foi entregue em 27 de outubro de 2009. No sábado, a Força Aérea falou que um texto preliminar sobre Vinhedo pode sair em 30 dias.

De acordo com a FAB, este foi o acidente com maior número de vítimas desde a queda do avião da TAM. O acidente é também mais um caso que ocorre em São Paulo, o Estado com o maior número de ocorrências em todo o País, porque concentra o maior fluxo de decolagens e aterrissagens. Nem sempre, no entanto, as aeronaves partem do Estado ou têm como destino o solo paulista.

Ao menos 746 pessoas morreram nos últimos dez anos em acidentes aéreos. O ano com mais vítimas foi 2016. Em 2024, a FAB já registrou 27 acidentes fatais com 49 vítimas – os dados contemplam todas as categorias de aviação. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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