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Colunistas Arlete T.L. Wedekin (1945-2025) (parte I)

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

No dia 6 de fevereiro, minha mulher Arlete Teresinha Liberali Wedekin, aos 79 anos despediu-se da vida, depois de uma longa e insidiosa doença (ELA).

Fomos casados durante 56 anos e posso dizer que tivemos uma existência plena – enfrentamos os desafios da vida com coragem e ternura, entre risos e lágrimas e juntos suportamos os dramas e as dores do mundo.

Nossa primeira e tormentosa aventura, ainda namorados em Joaçaba, interior de SC, numa sessão da tarde no Cine Vitória, de repente o filme interrompeu, acenderam as luzes e vimos, inquietos entrar em cena real um pequeno grupo de soldados do Exército, em operação de “guerra”. Era o começo de abril de 1964, nos primórdios do golpe, e eu, incapaz de matar uma mosca, fui carimbado como subversivo.

Dali fui levado a um “quartel-general” meio mambembe, a sede da “revolução” na região, para responder pelos graves crimes que, já aos 21 anos de idade, havia cometido contra a pátria estremecida.

Arlete estava lá , testemunhou e foi até minha casa avisar os meus familiares.

E de lá até os dias atuais trilhamos juntos a longa jornada. De Joaçaba fomos morar em São Paulo, por pressão da mesma quartelada. Depois, Rio, Florianópolis, Brasília…

Arlete, prudente e comedida, pensava muito antes de tomar uma decisão. Mas não para mudar de cidade – seus olhos brilhavam diante das supostas ventagens de um novo lar. Como adolescentes de pouco juízo, nos jogávamos ao mar sem salva-vidas, ignorando os riscos de uma nova odisseia, e pensando que na próxima estação estaria o nosso destino luminoso.

Em São Paulo, ela deu a luz à Luana e Nara – e depois em Florianópolis, a Leonardo. Foram os nossos melhores frutos. Arlete não apenas gerou, criou e trouxe-os (com a minha modesta contribuição) até esta parte, honestos, operosos, inteligentes e amorosos, todos bem encaminhados na vida.

O amor extremado depois passou para as netas Camille, Maria Clara e Aninha. E mais tempo houvesse alcançaria os bisnetos italianos, Theo e Cora, que ela pouco conheceu. Alessandro (genro), Samira (nora), Nicola (marido italiano de Camille) mereceram dela afeição e respeito, como se fossem filhos. Nunca houve esposa, mãe, avó, sogra tão devotada.

Vivemos, Arlete e eu, um grande amor. Depois que ela adoeceu, tive tempo para refletir que eu poderia ter dado a ela mais atenção e mais amor. Lamento as tantas vezes em que me perdi nas minhas obsessões e impaciências. Não pude lhe conceder mais do que permitiam os meus limites.

Na ditadura ela viveu comigo as aflições de um inimigo do regime, preso três vezes pelo Exército, réu de um processo na Lei de Segurança Nacional. Depois, advogado de perseguidos e presos políticos, se tornou comum receber recados ameaçadores dos agentes da repressão. Tais como telefonemas no meio da noite com direito aos mais sonoros palavrões do idioma e vis insinuações, além de se dar ao ato covarde de ameaçar de morte nossos filhos.

Arlete, em momento nenhum, e nem de longe, sugeriu que deveríamos abandonar a fé e o compromisso. Seguimos em frente, administramos nossos medos – de onde vinha a coragem, não sei.

(segue)

Nelson Wedekin

titoguarniere@terra.com.br

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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