Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de abril de 2025
A Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), entidade que está no centro das suspeitas de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), teve um aumento vertiginoso de arrecadação nos últimos anos. Em 2021, as contribuições dos associados foram de R$ 135. O total saltou para R$ 14,9 milhões em 2022 e R$ 91 milhões em 2023. Entre janeiro e março de 2024, as contribuições alcançaram R$ 71,6 milhões. O faturamento da associação soma R$ 178 milhões entre 2019 e 2024.
A Ambec é uma das associações investigadas na Operação Sem Desconto, deflagrada na quarta (23). A Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que, no caso da Ambec, “inexiste estrutura física adequada e compatível com as ações de captação, filiação e atendimento da quantidade de associados registrados” e que os aposentados vítimas dos descontos praticados pela entidade “desconhecem por completo” a associação. Há mais de 2 mil reclamações registradas contra a associação.
O empresário Maurício Camisotti é um dos principais investigados. Ele é descrito no inquérito como “figura central” do esquema. Camisotti seria “sócio oculto” da associação e teria usado familiares como laranjas em diversas empresas para receber e lavar o dinheiro das fraudes. A mulher, o filho, dois primos, um sobrinho e o cunhado dele são investigados. Os três últimos presidentes da associação tem parentesco com o empresário.
Outro personagem considerado fundamental do inquérito é Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, apontado como lobista do esquema. De acordo coma PF, foi ele quem abordou servidores do INSS para conseguir os dados cadastrais dos aposentados.
Ao autorizara operação, o juiz Massimo Palazzolo, da 4.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, justificou que há “fundadas razões” e “indícios suficientes da(s) possível(is) prática(s) criminosa(s)”. Além das buscas, ele autorizou o bloqueio de bens até R$ 174 milhões da Ambec, da Rede Mais Saúde, da Prevident Assistência Odontológica, da Benfix Corretora de Seguros e da Prospect Consult. Também suspendeu o acordo de cooperação técnica da associação com o INSS.
O procurador da República Alexandre Jabur pediu o bloqueio do dinheiro alegando que os desvios foram milionários e que os investigados “vêm interpondo meios para ocultação e dissimulação do dinheiro até então recebido”.
Defesas
Em nota, a Ambec disse que “não pratica atividade ostensiva de captação, prospecção e afiliação de seus associados, sendo tais atividades praticadas por empresas privadas diversas, de forma que, se qualquer fraude ocorreu, a associação é tão vítima quanto seus associados”.
“A associação vê com surpresa a deflagração da Operação ‘Sem Desconto’ pela Polícia Federal, já que os mesmos fatos são, há mais de 1 (um) ano, investigados e esclarecidos no âmbito de investigação da Polícia Civil do Estado de São Paulo, sendo que a associação, desde 2022 e de forma espontânea, colabora irrestritamente com a Autoridade Policial, Ministério Público e Poder Judiciário”, afirmou a entidade no comunicado.
Também em nota, o Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi), que tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que apoia a investigação “rigorosa” das denúncias para proteger os aposentados e fortalecer a credibilidade de instituições que defendem seus direitos.
“Para o Sindnapi, a proteção dos direitos dos aposentados é uma prioridade fundamental para garantir uma sociedade mais justa e solidária. Quando surgem denúncias de descontos irregulares nos benefícios, é essencial que essas alegações sejam levadas a sério e investigadas de forma rigorosa. Essas denúncias podem afetar diretamente a vida de muitas pessoas que dependem desses recursos para garantir seu sustento e bem-estar”, disse. “Uma investigação séria e transparente ajuda a identificar possíveis irregularidades, corrigir falhas e evitar que injustiças continuem acontecendo.” (Com informações do Estado de S. Paulo)