Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de fevereiro de 2016
Lenda do Vale do Silício (EUA), arrogante, visionário da tecnologia, tirano. O cofundador da Apple Steve Jobs, morto em 2011, será sempre lembrado com admiração por muitos e repúdio por outros tantos. E é esse ser imperfeito que o cineasta Danny Boyle (“Trainspotting” e “Quem Quer Ser um Milionário?”) persegue em “Steve Jobs”, nova cinebiografia do executivo, estrelada pelo ator Michael Fassbender.
A produção venceu dois Globos de Ouro (atriz coadjuvante, para Kate Winslet); e roteiro, para Aaron Sorkin, criador das séries “The Newsroom” e “The West Wing” e roteirista do longa “A Rede Social”).
“Esse é o propósito do filme. Voltar atrás e torná-lo humano. Os seres humanos são mais reconhecidos por seus defeitos, não por serem perfeitos, idealizados. Somos todos imperfeitos. E isso é ótimo”, diz Boyle.
Rejeitado pela família.
Não se trata, portanto, de um retrato para tornar o executivo “gostável” – o filme, aliás, sofreu tentativas de boicote, incluindo da viúva de Jobs, e a biografia assinada por Walter Isaacson, na qual o longa se baseia, tampouco fez sucesso com a família do executivo. Boyle defende que figuras de peso na indústria da comunicação sejam submetidas ao escrutínio público.
No filme, a história de Jobs é contada de maneira eletrizante a partir de três eventos que marcaram a carreira do executivo – cada um filmado com uma câmera diferente para deixar em evidência a evolução tecnológica. O primeiro é o lançamento do Macintosh, em 1984. O segundo, já fora da Apple, envolve a apresentação do NeXT, em 1988. E o terceiro, a revelação ao mundo do novo iMac, em 1998, coroando sua volta triunfal à Apple. Antes de cada lançamento, Jobs dialoga com outros cinco personagens do filme.
Boyle exigiu semanas de ensaios dos atores. Fez o mesmo, aliás, enquanto preparava a abertura das Olimpíadas de Londres (Inglaterra), em 2012, quando dirigiu 7 mil voluntários e conseguiu fazer a Rainha Elizabeth II dizer “Boa noite, Mr. Bond” para o ator Daniel Craig.
“Normalmente você só tem uns 25 minutos de ensaio em um filme. Tende-se a achar que ensaio desperdiça dinheiro, porque é um tempo que se perde quando se poderia estar gravando. Acho o contrário, porque no ensaio você identifica erros e os resolve”, diz.
Relação complicada com a filha.
O filme abordou também a vida pessoal de Jobs. Braço-direito e uma espécie de alter ego do executivo, Joanna Hoffman (Kate Winslet) tem papel importante no filme. Cabe a ela, muitas vezes, a função de trazer Jobs para o mundo real, principalmente quando tenta aproximá-lo da filha, Lisa. Jobs levou anos para assumir a paternidade da menina, e a relação dos dois é um dos fios condutores da história – talvez a régua para medir a distância entre o bem e o mal do personagem.
Inicialmente, a direção de “Steve Jobs” seria de David Fincher (“A Rede Social”). Mas ele deixou o projeto. E, quando lamentava o fracasso de sua ideia de fazer um musical sobre David Bowie, Boyle recebeu o roteiro do filme. E as bênçãos de Steve Wozniak, cofundador da Apple, vivido por Seth Rogen no longa. E, então, uma afirmação de Wozniak para Jobs tornou-se a pergunta que norteia a cinebiografia: “É possível ser brilhante e correto ao mesmo tempo?”.
“Isso não é algo binário, é uma escolha. Às vezes, você pode estar destruindo pessoas para avançar com suas crenças, e isso não está certo. No filme, acho que Jobs acaba seguindo uma direção em que reconhece que, apesar de fazer coisas lindas, se considera malfeito e inadequado de alguma maneira”, aposta Boyle. (AG)