Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de outubro de 2022
Após percorrerem cerca de 40 quilômetros de floresta, em um esforço que incluiu vencer corredeiras e caminhar por dias, pesquisadores brasileiros conseguiram ficar diante da maior árvore da Amazônia já mapeada. O encontro com a gigante da espécie angelim-vermelho, de 88,5 metros de altura e 9,9 metros de circunferência, na floresta estadual do Parú, no Pará, aconteceu três anos após a árvore ser localizada por satélite, em um verdadeiro santuário da espécie.
O estudo do angelim-vermelho, que tem o nome científico de Dinizia excelsa Ducke, foi feito na quinta edição do projeto que mapeia as árvores gigantes da Amazônia, realizada no Sul do Amapá, de 11 a 21 de setembro. A árvore havia sido identificada em 2019. Mas ainda não tinha sido possível chegar ao local onde está. A expedição que a encontrou foi formada por 20 pessoas, entre pesquisadores e amapaenses da região de Laranjal do Jari.
“Quando localizamos a gigante (em 2019), faltaram apenas três quilômetros para chegarmos até ela. Optamos por abortar a missão por falta de tempo, combustível e alimentação. Para sabermos o seu tamanho, a medição foi feita por um laser em um avião, que escaneia a árvore da raiz à ponta do galho mais alto”, diz o coordenador da pesquisa, Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
400 anos de vida
Os pesquisadores estimam que a gigante tenha aproximadamente 400 anos de vida. Com cálculos matemáticos baseados na dendrocronologia — uma das técnicas de datação que se baseia nos anéis de crescimento das árvores — os cientistas pretendem comprovar o palpite. A altura do angelim pode ser comparada a um prédio de 30 andares.
A busca às gigantes começou depois de o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fazer mais de 800 sobrevoos na Amazônia, que resultaram na descoberta de sete árvores maiores de 60 metros. Em 2016, pesquisadores de universidades do Brasil, da Finlândia e do Reino Unido também já haviam analisado por satélite 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira.
Em outubro de 2020, outra expedição levou estudiosos a quatro novas gigantes, na reserva do Rio Iratapuru, após uma pausa de sete meses no mapeamento devido à pandemia da covid. A aventura possibilitou encontrar a mais alta castanheira já registrada na Amazônia, com 66,66 metros. No fim de setembro do ano passado, a equipe chegou à segunda maior árvore da espécie angelim-vermelho. Ela tem 85,44 metros de altura e idade estimada em cerca de meio milênio.
Local privilegiado
As pesquisas ao longo das cinco expedições mostram que a região do Rio Jari é uma área diferenciada na Floresta Amazônica, motivo de ter sido o único local em que as árvores gigantes foram identificadas. O local favorece o crescimento da espécie devido à baixa incidência de ventos e insolação direta, somada à quantidade regular de chuvas e solos profundos e bem estruturados.
Além disso, de acordo com Gorgens, por estar em uma unidade de conservação, o angelim-vermelho de quase 90 metros não corre tanto risco de sofrer com a ação ilegal de madeireiros. Mas o pesquisador aponta que são necessárias leis que garantam sua proteção integral, com o crescente desmatamento na Amazônia.