Desde o primeiro dia do ano, o presidente Donald Trump atacou vários países em posts no Twitter, incentivando manifestantes a derrubar o governo iraniano, ameaçando detonar a Coreia do Norte e pedindo reduções na assistência aos palestinos. Em seu tom e suas bravatas, ele começou 2018 onde terminou o ano passado.
Duas coisas se destacam nas mensagens sobre política externa postadas por Trump no Twitter desde que ele chegou ao poder: primeiro, quanto elas diferem dos modos em que os presidentes americanos se expressaram tradicionalmente, o que dirá sua diplomacia. Segundo, em quão poucos casos Trump colocou em prática o que advogou. Quase um ano depois de sua chegada à Casa Branca, o resto do mundo ainda está tentando decifrar se Trump é mais discurso do que ação, mais tigre de papel que tigre de verdade.
Os países não sabem se devem entender suas palavras como declarações de política externa americana ou se elas podem ser ignoradas em segurança. Se as ameaças de Trump são vistas como sendo da boca para fora, o que isso acarreta para a credibilidade dos EUA? Em uma série de tuítes no sábado, Trump reagiu a perguntas sobre sua capacidade mental, dizendo que é “um gênio muito estável”.
Mesmo que se considere que os tuítes de Trump constituem um desabafo ou visam tranquilizar a base doméstica do presidente, paira no ar uma impressão crescente de que a credibilidade da administração e da própria Presidência está sendo erodida.
Richard N. Haass, presidente do think tank Council on Foreign Relations, em Nova York, recentemente reproduziu alguns dos tuítes mais agressivos de Trump e comentou: “Este é nosso comandante em chefe. Pensem nisso.”
As palavras do presidente americano têm importância, ele acrescentou em mensagem no Twitter. “É por isso que muitos dos tuítes deste presidente causam alarme. Trata-se não apenas de uma política questionável ocasional, mas de julgamento e disciplina questionáveis.”
A verdade, disse Haass, é que posts no Twitter devem ser tratados com tanta seriedade quanto qualquer outra declaração vinda da Casa Branca, para não correr o risco de as palavras do presidente perderem valor.
O secretário de Estado Rex Tillerson falou dos tuítes de Trump em entrevista recente à “The New York Times Magazine”, dizendo que a abordagem de seu departamento é “suficientemente resiliente” para lidar com o inesperado e ainda assim trabalhar com vista a suas metas de longo prazo. “Encaro os tuítes do presidente como sua forma de se comunicar e incluo isso em minhas estratégias e táticas”, disse Tillerson.
Mas os posts de Trump no Twitter já desvalorizaram as palavras do presidente, argumenta R. Nicholas Burns, ex-diplomata de carreira e embaixador na Otan que leciona em Harvard e trabalhou com a campanha de Hillary Clinton. “Os tuítes são comunicados do presidente, do governo dos Estados Unidos, portanto são importantes”, ele opinou.
“Mesmo quando Trump está com a razão”, defendendo manifestantes iranianos ou criticando os testes de mísseis norte-coreanos, “sempre há algum excesso ou alguma declaração indesejável que enfraquece a credibilidade americana, e é difícil recuperar essa credibilidade.”
Burns apontou para a decisão de Trump de transferir a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv a Jerusalém, por mais que seja adiada ou simbólica. Ela rompeu com anos de consenso político internacional segundo o qual o status de Jerusalém seria decidido em negociações de paz.
Quanto à Coreia do Norte, Pyongyang vem levando adiante seus testes de mísseis balísticos intercontinentais, não obstante os tuítes de Trump, e não deu até agora nenhum indicativo de que vá concordar em se desfazer de suas armas nucleares em troca de negociações com Washington. Em lugar disso, passou ao largo de Washington para reiniciar negociações com Seul.
Mesmo no Paquistão, onde na semana passada Trump colocou em prática suas ameaças de suspender a assistência americana devido ao apoio ambíguo do país à luta dos EUA contra o Taleban, o presidente primeiro foi a favor do Paquistão, antes de ser contra.
Algumas pessoas sugerem que os tuítes de Trump não devem ser levados tão a sério. Daniel S. Hamilton, ex-funcionário do Departamento de Estado e hoje diretor do Centro de Relações Transatlânticas da Universidade Johns Hopkins, diz que Trump “usa esses tuítes e as redes sociais para manter a coesão de sua base política” e que “se os tuítes serão ou não convertidos em políticas públicas é outra questão inteiramente”.
Não podemos ignorar os tuítes presidenciais, disse Hamilton, “mas a finalidade deles não é fazer pronunciamentos diários sobre política pública americana”. Trump tem plena consciência do efeito e timing de seus tuítes, disse Hamilton; quando ele lança tuítes muito cedo pela manhã, “isso já dá o tom da cobertura da mídia para o resto do dia”.