Ex-candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PL), o general Walter Braga Netto tornou-se o principal alvo da Polícia Federal (PF) nas investigações sobre a trama golpista dentro do governo passado. A PF considera que o papel do ex-presidente nas investidas antidemocráticas já está mais claro, o que direcionou as apurações à atuação do ex-ministro da Defesa.
Para os investigadores, há indícios da participação decisiva de Braga Netto na coordenação, mobilização e captação de recursos para os ataques que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
Veja os detalhes já revelados sobre as ligações do general com o caso.
* Envolvimento no 8 de Janeiro
Esclarecimentos sobre o 8 de Janeiro — os articuladores, o planejamento, quem atuou e quem financiou — não estão nos planos do inquérito que apura a trama golpista. No entanto, diversos elementos colhidos serão remetidos a outra investigação, a de milícias digitais, a qual, entre outros objetivos, planeja chegar aos responsáveis pelos atos antidemocráticos.
Entre os elementos, estão mensagens, enviadas em 27 de dezembro de 2022, em que Braga Netto é questionado pelo assessor de Bolsonaro, Sérgio Rocha Cordeiro, para quem poderia enviar o currículo de uma mulher para trabalhar no governo.
Na época, apesar de Lula já ter sido diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral e faltarem apenas três dias para a posse do agora presidente, Braga Netto respondeu: “Se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda”.
Na visão da PF, a mensagem mostra que “os investigados ainda estavam empreendendo esforços para tentar um golpe de Estado e acreditavam na consumação do ato, impedindo a posse do governo legitimamente eleito”.
Para a investigação, o fato de que Braga Netto ordenava ataques em redes sociais bolsonaristas aos militares que se recusaram a aderir à tentativa de golpe também é um indicativo do acesso e coordenação do general sobre as milícias digitais que mobilizaram apoiadores de Bolsonaro aos ataques de 8 de janeiro de 2023 — ou “Festa da Selma”, código usado por eles para se referir aos atos.
* Xingamentos a militares
Em fevereiro, mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram uma série de xingamentos e ofensas proferidas pelo ex-ministro-chefe da Casa Civil e da Defesa a diversos integrantes da cúpula das Forças Armadas que não quiseram aderir aos planos de golpe de Estado.
Em uma delas, Braga Netto se refere ao ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, como “cagão” e diz: “Oferece a cabeça dele”.
Freire Gomes foi um dos chefes de Força a desestimular as iniciativas antidemocráticas. O ex-comandante do Exército chegou a ameaçar Bolsonaro de prisão, caso prosseguisse com o plano de golpe de Estado, segundo depoimento do ex-comandante da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Baptista Júnior.
Baptista Júnior também foi alvo de ofensas de Braga Netto. O general chamou o tenente-brigadeiro de “traidor da pátria” e orientou Ailton Barros, ex-militar interlocutor das mensagens, a “infernizar a vida dele e da família”.
Braga Netto ainda ofendeu o general Tomás Paiva, hoje comandante do Exército. Segundo as mensagens, Paiva teria ido à casa do ex-comandante do Exército Villas Bôas e falado mal do Alto Comando do Exército. Braga Netto disse que o comandante “parece até que é PT desde pequenininho”.
* Acampamentos
A influência de Braga Netto em relação aos acampamentos bolsonaristas levantados após o fim das eleições de 2022 também é um dos pontos de suspeita sobre o general. Em depoimento, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, afirmou que o ex-ministro atuava como elo entre o ex-presidente e integrantes dos acampamentos montados em frente aos quartéis do Exército que, entre outras coisas, pediam intervenção militar após a vitória de Lula.
No relato, Cid contou que Braga Netto atualizava o ex-presidente em relação ao andamento das manifestações golpistas.
No final de 2022, manifestantes que acampavam em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, frequentaram a casa onde funcionou o comitê de campanha de Bolsonaro, mostrou reportagem do site Metrópoles. Na época, Braga Netto dava expediente no local.
Em novembro, o general falou com bolsonaristas que estavam em frente ao Palácio da Alvorada e pediu que “não perdessem a fé”. Na ocasião, a fala foi tomada como uma resposta positiva aos pedidos de intervenção golpista feitos pelos apoiadores do governo Bolsonaro.
“Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”, disse Braga Netto.
Uma manifestante reclamou a Braga Netto à época que bolsonaristas estavam “na chuva, no sufoco”.
“Eu sei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom?”, respondeu o ex-vice de Bolsonaro.
* Silêncio em depoimento
Assim como Jair Bolsonaro, Braga Netto se manteve em silêncio durante depoimento prestado à Polícia Federal em fevereiro. O general foi convocado a depor em vista da investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.
A defesa do ex-ministro disse à época que ele buscava exercer “o direito de ter acesso absoluto e integral a toda investigação para que possa prestar os devidos esclarecimentos”.