Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Cláudia Fam Carvalho | 7 de maio de 2020
Presenciamos também atos extremos de coragem por parte dos profissionais de saúde
Foto: DivulgaçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Cresci ouvindo frases do tipo “é na adversidade que conhecemos as pessoas”. Essa é mais uma daquelas lições que aprendemos com nossos pais, que na adolescência desafiamos veementemente e que, mais tarde na vida, nos caem como “praga rogada por mãe” de tão verdadeira que é.
Com a pandemia, a adversidade foi tamanha que ganhou uma nova perspectiva, pois, de uma hora para outra, nos vimos ameaçados de morte, sem liberdade, distante dos que amamos, sem perspectiva e nas mãos do então ministro da Saúde que nos dava as coordenadas de nossos próximos passos. Foi tão intenso que muitos mecanismos de defesa dos quais lançamos mão normalmente falharam e, na adversidade, conhecemos alguns traços bem escondidos de nossos queridos familiares, amigos e conhecidos.
Então, além da sobrecarga dos problemas de saúde, econômicos e políticos que vivemos, ainda estamos experimentando, cada um a sua maneira, um certo desapontamento com as pessoas que em outra hora nos cercavam de alegria, nos almoços e festas que fazíamos.
Aos meus olhos, saltaram o egoísmo de algumas pessoas que por medo exagerado de morrer, ansiedade patológica ou puramente por interesse pessoal, não toleram ouvir falar em flexibilização do isolamento e partem para uma agressividade descabida, com argumentos disfarçados de ciência.
É óbvio que a gravidade da situação de saúde não pode ser menosprezada (e quem me conhece sabe o quanto defendi o isolamento até tomarmos consciência da situação de cada local, para que fossem tomadas as mais adequadas decisões), mas o pleito pela manutenção do “ganha pão” das pessoas é mais do que legítimo e não podemos fechar os olhos para o número extensivo de empresas fechadas e milhares de pessoas que perderam seus empregos, para não se falar dos trabalhadores informais.
Mas, por medo de faltar respirador para si ou para os seus, alguns defendem a manutenção da paralisia de uma nação inteira. Haja reza para aliviar essa culpa. Desalentador também o discurso dos falsos democratas, que adoram falar em amor ao próximo, tolerância e paz, porém são os primeiros a não tolerar opiniões diversas das suas, muitas vezes vorazmente as atacando.
Por exemplo, as manifestações na frente do Palácio do Planalto do último domingo foram taxadas de antidemocráticas. Sinceramente, parafraseando o ministro do STF Barroso, “os apoiadores de Bolsonaro são livres para se manifestar”, e, a meu ver, antidemocrático seria não permitir que as pessoas que estão cansadas de corrupção, cansadas de assistir a uma verdadeira orgia promovida pelo Congresso Nacional bancada com dinheiro público, não pudessem se manifestar.
Eu, pessoalmente, prefiro palavras duras e sinceras a discursos rebuscados cheios de demagogia, mas com certeza isso é uma questão de gosto. Apesar do cenário desalentador, não posso deixar de pensar com otimismo, energia e esperança que me são característicos. Presenciamos também atos extremos de coragem por parte dos profissionais de saúde, trabalho incansável dos motoboys, solidariedade por parte de grandes financeiras e, por incrível que pareça, paz no meu grupo do condomínio.
As crises nos fazem crescer e aprendemos mais na tempestade do que na bonança. Fica claro que é tempo de valorizarmos mais o que e quem nos é realmente caro e é tempo também de soltarmos velhas amarras que não mais fazem sentido. Bem-vindo, mundo pós pandemia!
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
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