Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de setembro de 2021
As declarações do ministro da Educação, Milton Ribeiro, abalaram sua segurança no cargo. As últimas entrevistas geraram desconforto no Palácio do Planalto e fizeram com que alas do governo passassem a pedir a cabeça do ministro.
A escalada de tensão sobre Ribeiro, no entanto, é contida pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que nutre simpatia pelo subordinado. Apesar das críticas, interlocutores de Bolsonaro avaliam ser difícil uma nova troca neste momento em uma pasta que já teve duas trocas de comando, de Ricardo Vélez para Abraham Weintraub e deste para Ribeiro (sem contar a nomeação de Carlos Decotelli, cancelada depois que o currículo que apresentou ao governo foi contestado).
As declarações de Ribeiro de que alunos com deficiência “atrapalham” em sala de aula incomodaram a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que adotou a inclusão dessas pessoas como uma bandeira de sua atuação no governo do marido. Ribeiro também é visto com antipatia por setores olavistas e a escassez de resultados de sua gestão tem gerado incômodo.
Dentro do MEC, o ministro tem incomodado integrantes da Secretaria de Alfabetização, comandada por Carlos Nadalim, discípulo do guru conservador Olavo de Carvalho. A percepção é que Ribeiro não dá atenção aos projetos tocados na área chefiada por Nadalim, criada na gestão de Vélez.
Como o ministro não tem um grupo forte dentro do governo, os desconfortos por sua atuação têm um impacto maior e fragilizando sua posição no cargo. Ribeiro chegou ao MEC sobretudo com o apoio do ex-ministro da Advocacia-Geral da União (AGU) André Mendonça, que hoje enfrenta dificuldades para ser aprovado no Senado para a vaga deixada por Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal, e do ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Jorge Oliveira, hoje no Tribunal de Contas da União.
Presença no Planalto
Para driblar a conjuntura desfavorável, Ribeiro gosta de marcar presença em eventos do Planalto e demonstrar apreço ao presidente e à primeira-dama. O fato de o ministro ser pastor presbiteriano é também apontado por detratores como um dos motivos que prolongam sua sobrevida no cargo, porque Bolsonaro procura manter o apoio entre a base evangélica.
Embora tenha um estilo menos confrontador do que o antecessor Weintraub, o ministro não conta com respaldo na área educacional. Ribeiro é tido na área como um gestor que não tem conhecimento da pasta que comanda, além de não contar com produção relevante academicamente.
“Ele vem de um governo que tem um passivo na educação pelas polêmicas que criou e pela entrega pouco efetiva. Assume numa hora em que a educação se vê colocada mais à prova ainda e ele não é uma pessoa que, a despeito de seu título e trajetória, circulava no campo educacional. Ser uma pessoa afável só é um diferencial em comparação com alguém como (o ex-ministro Abraham) Weintraub, mas isso não é pré-requisito para ser ministro da Educação — avalia o presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed), Vítor de Angelo, acrescentando que o ministro pouco fez pelas redes no que diz respeito à pandemia.
“Não dá para achar que com anúncios retóricos a situação muda. ‘Vamos voltar às aulas’ e voltamos, ou ‘escolas são seguras’ e as escolas tonam-se seguras. É preciso muito trabalho, investimento, diálogo, e coordenação com diversos atores e isso o MEC nem sempre fez e, quando fez , foi tardiamente.”
As considerações de Ribeiro sobre crianças com deficiência também fizeram reviver os tempos de atrito dos gestores do MEC com o Congresso no início do governo Bolsonaro. Em uma reunião fechada que durou cerca de três horas, o ministro foi “enquadrado” por parlamentares acerca de suas declarações.
O tom foi tão duro que gerou constrangimento entre os presentes. Após o mal-estar vir a público, Ribeiro divulgou uma nota para baixar a temperatura, afirmando que “desculpou-se novamente” e reafirmou seu compromisso sobre o tema. O ministro compartilhou ainda uma matéria do portal da Câmara dos Deputados sobre a “superação das polêmicas” com o MEC.
Embora uma alteração no MEC não esteja prevista em um curto período, a pasta, segundo interlocutores do Planalto, pode entrar no radar de uma eventual reforma ministerial. Sobretudo porque essa não é a primeira vez que as declarações de Ribeiro inflam a opinião pública. No início do mês passado, ele afirmou que as universidades deveriam ser “para poucos”. Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, no ano passado, o pastor afirmou que “gays vêm de famílias desajustadas”.