As demissões em massa nas grandes empresas de tecnologia voltaram. Pegando de surpresa todo o mercado, que pensava que esses cortes eram uma questão superada e deixada em 2022 e 2023, ao menos sete companhias grandes e influentes dispensaram um total de mais de duas mil pessoas nas duas últimas semanas.
Nomes como Microsoft, Alphabet (empresa-mãe do Google), Amazon, TikTok, Discord e Duolingo também realizaram cortes de centenas de funcionários, bem como o enxugamento de diversos departamentos, como publicidade e vendas. Recentemente, o estúdio Riot Games (conhecido pelo jogo League of Legends) e a startup “unicórnio” Brex entraram na lista de demissionárias.
Essas demissões acontecem em meio à euforia da inteligência artificial (IA), cuja disseminação e rápida aplicabilidade aos negócios alavancou essas companhias nos últimos meses, após a chegada do ChatGPT, da americana OpenAI. Para citar somente os grandes nomes do mercado público de ações, Microsoft, Google, Amazon e Meta entraram na onda do boom da IA a tempo de ver suas ações subirem, respectivamente, 57%, 58%, 81% e 23% em 2023.
As demissões na área de tecnologia deste ano, portanto, acontecem em um momento em que essas empresas estão melhor capitalizadas e bem-vistas por investidores do que há um ano – motivo pelo qual os cortes vêm assustando o mercado. Mas, ao contrário dos últimos anos, há um novo elemento que chacoalha o mercado e força uma busca ainda maior por inovação e redução de custos considerados desnecessários: a própria inteligência artificial.
Motivos
Entre 2022 e 2024, o cenário mudou para as companhias de tecnologia, das pequenas às grandes.
Há dois anos, a alta global dos juros e a volta à normalidade após a pandemia de covid (cuja necessidade por serviços digitais impulsionou o negócio dessas empresas) foram os principais motivos para a desaceleração dessas companhias. Na tentativa de manter as margens de lucro e se preparar para um cenário de incertezas, as empresas de tecnologia seguraram o dinheiro e demitiram milhares de pessoas. Não à toa, a palavra que dominou o vocabulário dos CEOs foi “eficiência”.
Agora, essas companhias se deparam com outra realidade: estão prestes a entrar numa guerra pelo domínio da inteligência artificial. Em casos extremos, quem perder essa batalha pode perder relevância no mercado.
“Isso mudou o foco do setor para a inovação”, diz o analista Thomas Monteiro, editor da plataforma de investimentos Investing.com. Segundo ele, em 2024, o objetivo das empresas de tecnologia é eliminar ineficiências, desinvestir em áreas menos rentáveis e aplicar o capital excedente em serviços inovadores no campo da IA — o que significa contratar pessoas mais experientes e dispensar as mais juniores.
Demissões continuam
Outra diferença é que as demissões do período anterior também foram maiores.
Juntas, Microsoft, Google, Amazon e Meta dispensaram mais de 61 mil pessoas entre outubro de 2022 e março de 2023. Além delas, empresas menores de tecnologia e startups entraram na onda, realizando cortes de centenas de funcionários de uma vez em um período conhecido como “inverno das startups”.
Para os próximos meses, o ciclo de corte dos juros está próximo de ser retomado no mundo, segundo as expectativas do mercado. Isso significa que as empresas vão ter custo menor de capital para crescer, colocando-as num período de bonança melhor do que a escassez anterior.