Ícone do site Jornal O Sul

As importações de diesel russo dispararam no Brasil em 2023

Historicamente, o Brasil importa até 30% do diesel que consome. (Foto: Divulgação)

As importações de diesel russo dispararam no Brasil em 2023. Levantamento da consultoria de preços Argus aponta que mais de um quarto (25,6%) de 1,5 bilhão de litro importado veio da Rússia.

A previsão de analistas é que esse fluxo se intensifique devido aos descontos dados pelos russos. O abatimento tem chegado a US$ 0,20 por galão (cerca de 3,8 litros) em cima do diferencial praticado pelo mercado, que tem como base os preços dos contratos futuros negociados na Bolsa de Nova York. Em média, o galão custa por volta de US$ 2,44. “Isso (a diferença) dá quase R$ 25 por metro cúbico ou R$ 0,25 por litro”, diz Sérgio Araújo, da Associação Brasileira de Importadores de Combustível (Abicom), que vê a diferença como “muito expressiva”.

Com a guerra na Ucrânia, os russos tentam ganhar novos mercados por causa das sanções do seu cliente mais tradicional, a União Europeia (UE).

O redirecionamento das cargas do combustível russo acontecia desde meados de 2022, explica o especialista de combustíveis da Argus, Amance Boutin, mas se intensificou a partir de fevereiro de 2023, quando o embargo aos derivados de petróleo da Rússia começou oficialmente. O diesel russo, que no passado era destinado quase totalmente à Europa, passou a atender a Turquia e a países da Ásia, da África e da América Latina, incluindo o Brasil.

Mais conservadores, os dados oficiais do Ministério da Indústria e Comércio de março apontam 18,53% de diesel da Rússia no total das importações brasileiras do produto. Em fevereiro, essa fatia foi de 13,9%. Apesar das diferenças, tanto os porcentuais do governo quanto os da Argus indicam uma explosão na importação do combustível russo. Até pouco tempo atrás, esse fluxo era irrelevante.

A diferença entre os dados, explica Boutin, deve-se aos transbordos de volumes durante o trajeto. Parte do combustível refinado na Rússia acaba internalizada por outros países que não têm parque de refino, o que muda sua origem oficial no caminho até o Brasil. Alguns desses países intermediários estão na costa atlântica da África, no Golfo da Guiné, como Togo e Benin.

Segundo Boutin, a maior parte do diesel russo tem entrado no País pelo porto de Paranaguá (PR), em função de um déficit temporário de produto nacional relacionado a uma parada para manutenção na refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras.

Historicamente, o Brasil importa até 30% do diesel que consome. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2022, essa parcela foi de 27,86% do total ou 15,8 bilhões de litros.

A maior parte dessa importação (57,5% ou 9,1 bilhões de litros) veio dos Estados Unidos. No mesmo período, somente 0,7% (121 milhões de litros) veio da Rússia, participação que deve saltar neste ano.

Para efeito de comparação, em março, segundo o governo, a parcela do diesel importado de origem russa (18,5%) ainda ficou atrás, mas já se aproximou do volume embarcado dos EUA e da Índia, que responderam por 28% e 27%, respectivamente, das compras nacionais do combustível.

A ANP ainda não divulgou dados de importação de combustíveis em 2023. Mas dados do governo mostram que “óleos combustíveis de petróleo ou minerais betuminosos exceto óleos brutos”, na qual está o diesel, representam 34% da pauta de itens importados da Rússia pelo Brasil no ano, ante 14% em 2022 inteiro.

Sair da versão mobile