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Colunistas As mídias sociais e a democratização do saber

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A ascensão das mídias sociais e a consequente democratização das informações conferiu um poder antes inexistente para qualquer cidadão que deseje compartilhar suas ideias. Isso, necessariamente, não significa que haja maior produção científica pela simples circulação de opiniões, mas abriu mais um espaço para que também a produção acadêmica pudesse ser popularizada. Nesse sentido, professores, antes circunscritos aos seus redutos universitários, passaram a dialogar, especialmente através das mídias sociais, com um público leigo, mas ávido por acessar a conhecimentos antes exclusivos para quem frequentasse uma escola. Luiz Felipe Pondé, Sérgio Cortella e Leandro Karnal são os exemplos mais reluzentes desse novo momento da disseminação digital de saberes. Armados de fluência retórica e amplo conhecimento em suas respectivas áreas, os sábios da “ágora moderna” adaptaram suas falas para os não iniciados, com um repertório mais simples e acessível, ampliando consideravelmente seu raio de atuação e alcance, com um sucesso testemunhado por auditórios cada vez mais lotados e milhões de seguidores nas redes sociais.

Um dos últimos intelectuais que se propôs a tornar mais compreensível, a quase sempre hermética linguagem acadêmica, foi o sociólogo Jessé de Souza. Doutor em sociologia e autor de mais de 20 livros, Jessé de Souza escolheu um modo diferente dos autores generalistas, concentrando o seu foco no estudo da realidade sociológica brasileira. Jessé propõe um novo olhar para entender o Brasil, não mais através das lentes de Gilberto Freire, Sérgio Buarque e Raymundo Faoro, dentre vários outros, que consagraram a interpretação hegemônica do Brasil corrupto e inferior por natureza, mas de uma sociedade visceralmente desigual, ancorada na exploração econômica e na humilhação moral. Esse enfrentamento iconoclasta a pensadores consagrados da nossa sociologia combina arrojo e coragem intelectual com enorme esforço para alçar o tema, intrincado por sua própria natureza, ao domínio de uma faixa maior de audiência.

A importância da provocação às “vacas sagradas” da sociologia brasileira não se resume, contudo, à forma ou a predicados volitivos, muito antes sendo um contraponto sério a um modo quase que intocável de se fazer a leitura sociológica do nosso País. Jessé de Souza sustenta que é preciso reconstruir historicamente a experiência brasileira, não mais fundada no patrimonialismo que condena a política e o Estado à condição de vilões da Nação, mas a um entendimento que reconhece as verdadeiras origens das nossas mazelas, dentre as quais o encaminhamento equivocado do processo da escravidão, que marcou e ainda marca o cotidiano nacional. Nessa linha, não seria o patrimonialismo português, e sim a escravidão, a raiz de toda a sociabilidade brasileira. O segundo ponto a ser demarcado é a compreensão da luta de classes no Brasil, não o entendimento marxista ou liberal, de cunho economicista, mas enxergando as classes, inevitavelmente afetadas pelo flagelo da escravidão, como fruto da construção sociocultural, desde a influência emocional e afetiva da socialização familiar, como a variável elementar do comportamento real e prático observado.

O exemplo de temas de tamanha importância circulando nas redes sociais de modo mais abrangente e democrático é bastante encorajador. Entretanto, um amadurecimento maior de nossa capacidade crítica, num mundo reconhecidamente governado por ideias, muitas delas manifestamente caracterizadas como ideias-força, falsas e superficiais, vai muito além do empenho de intelectuais engajados. Será preciso, como fator antecedente, que se permita acesso mais amplo e urgente à educação, tema tão importante quanto negligenciado em nosso País, sem o qual teses tão brilhantes e provocativas como as que Jessé de Souza propõe, continuem, não obstante o seu denodo, mais como um grito de alerta do que uma possibilidade de mudança de mentalidade.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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