Quinta-feira, 02 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de dezembro de 2024
“Vingada” talvez seja uma palavra forte demais para definir como Pamela Anderson se sente desde que o mundo passou a vê-la como uma atriz séria. No papel de uma dançarina veterana que é descartada em Las Vegas, ela é a alma de “The Last Showgirl”, filme que lhe rendeu elogios, prêmios e até uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz dramática.
“Aquele fogo que motiva todos nós, no sentido de provar que as pessoas estavam erradas a nosso respeito, prefiro deixar dentro de mim, usando- o para o bem”, diz, negando saborear a fase de reconhecimento como uma espécie de revanche.
Não que ela não tenha motivos para isso. “As mulheres podem ser muito cruéis umas com as outras. Por mais que os homens se comportassem mal comigo, os piores momentos que vivi foram com mulheres”, recorda Anderson, de 57 anos.
Só mais recentemente a atriz conseguiu mudar a percepção da indústria de entretenimento e do público a seu respeito, transcendendo a antiga imagem de símbolo sexual, por ter se projetado como uma espécie de embaixadora das praias da Califórnia. Desde que foram revelados na série “Baywatch – S.O.S Malibu”, nos anos 90, seus seios fartos praticamente ganharam uma “carreira própria” (como ela mesma costuma dizer). Quando ela era o assunto, não se falava de outra coisa.
“Até hoje, as mulheres são as que mais querem lembrar o meu passado e julgar tudo o que aconteceu na minha vida”, afirma Anderson.
Sua história começou a ser reescrita com o documentário “Pamela Anderson – Uma História de Amor” (2023), da Netflix, onde ela mesma teve a chance de passar a vida a limpo. A atriz revisitou a infância turbulenta no Canadá (com o pai alcoólatra), o estupro aos 12 anos por um homem mais velho, as primeiras fotos nuas para a “Playboy”, o estouro com a série “Baywatch”, o casamento turbulento com o roqueiro Tommy Lee, o nascimento dos filhos, o vazamento de um vídeo pornô feito pelo casal e a exposição midiática sem limites.
A honestidade e a vulnerabilidade com que Anderson reviveu seus altos e baixos na produção impressionaram Gia Coppola, a ponto de a cineasta convidá-la para estrelar “The Last Showgirl”. Shelly, a protagonista do filme, perde o chão ao receber a notícia de que o show, no qual atua há 30 anos, em hotel-cassino de Las Vegas, está com os dias contados. O mesmo se pode dizer de sua carreira como dançarina, já que Shelly é ridicularizada ao procurar um novo emprego, sendo considerada “velha demais”.
E Coppola tinha razão. Ninguém melhor que Anderson, escalada praticamente só para reality shows na última década, para entender como as escolhas pesam na carreira de artista que sempre se destacou pelos atributos físicos. Principalmente quando a profissional envelhece, o que obriga Shelly a reavaliar os passos dados na vida.
“Procurei não me tornar amarga ao sair da montanha-russa de emoções que marcou as minhas últimas décadas. Não fico lembrando o que aconteceu, embora traga toda a experiência comigo. Tive a sorte de poder trabalhar coisas difíceis de articular em um filme que expressa todos esses sentimentos de um modo curativo e comovente”, diz a atriz, vestida com discrição (camisa branca e calça preta) e levemente maquiada. Muitas vezes, até em cerimônias de premiação, ela é vista de cara lavada.
“É como se eu tivesse me preparado a vida toda para esse papel. Sempre soube que podia ser melhor”, diz Anderson, candidata ao Globo de Ouro ao lado de atrizes com longas carreiras no cinema como Nicole Kidman (“Babygirl”), Angelina Jolie (“Maria Callas”), Kate Winslet (“Lee’), Tilda Swinton (“O Quarto ao Lado”) e Fernanda Torres (“Ainda Estou Aqui”). Exceto por Torres, todas são ganhadoras de Oscar.
“Na minha pequena biografia para as páginas da ‘Playboy’, escrevi que queria ser uma boa mãe e ganhar um Oscar”, lembra ela, rindo. Mas suas chances de concorrer ao prêmio de melhor atriz da Academia são menores. Aqui são só cinco indicadas e não seis, como no Globo, onde ela ainda brigou pela vaga apenas com as atrizes de filmes dramáticos. A disputa ficará mais acirrada no Oscar, já que a categoria também engloba as candidatas em comédias e musicais.