Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 13 de julho de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em quem votei no segundo turno, e votaria de novo se fossem os mesmos candidatos, não se cansa de causar decepção aos muitos eleitores que, como eu, esperava um presidente mais maduro do que nos dois primeiros mandatos, experimentado (ao menos) para não repetir os erros passados.
Imaginava um Lula cuidadoso com o que diz, para não se perder na inconsequência das palavras e não sofrer críticas que bem poderiam ser evitadas, melhorando assim o astral do seu governo, e dando razão a quem votou nele.
Agora, entretanto, parece mais arrojado, mais seguro de si, mas é para desferir diatribes, expressar dizeres vulgares, não raro sexistas, como no caso em que, interpelado por causa da idade, respondeu que se considera novo, e se duvidarem, que perguntem à Janja. Lembra, não muito vagamente, o Bolsonaro que se gaba de ser “imbrochável”. Não pega bem se equiparar a Bolsonaro, e ainda mais em terreno tão resvaladio.
Lula faz questão de deixar patente o alto apreço que devota a si mesmo – elogios que ele se atribui, para realçar suas próprias ações e virtudes, suas certezas inabaláveis sobre todos os assuntos. A modéstia definitivamente não é a sua praia.
Semana passada ele saiu-se com esta, literalmente: “quando eu estiver fazendo uma coisa errada, ao invés de você falar ‘o Lula está errado’, você tem que falar ‘eu estou errado’, porque o Lula é o povo na Presidência da República”.
Uma leitura: Lula nunca está errado. Outra: Lula é ele mesmo e o povo brasileiro. Qualquer uma dessas interpretações esbanjam egocentrismo, narcisismo, flertando com a megalomania.
Dirão os seus admiradores que não foi isso que ele quis dizer. Estou certo de que não, mas é uma fala imprudente, desnecessária, e talvez mais do que tudo, demagógica. Os governantes se desgastam mais perante a opinião pública pelo que dizem do que pelo que fazem.
É o caso do contencioso de Lula e Roberto Campos Neto, do Banco Central. O presidente acusa Campo Neto de ser um adversário plantado ali por Bolsonaro para atrapalhar o governo.
É uma versão que não se sustenta. Quer dizer que Bolsonaro, quando indicou Campos Neto para o Banco Central, dois anos antes, previu que perderia a eleição em 2022? E como explicar que o BC de Campos Neto tenha aumentado a taxa de juros duas vezes em pleno ano eleitoral? Bolsonaro teria muito mais razões para desconfiar da parcialidade do presidente do BC.
E mais: Lula se gaba de que a inflação está controlada. Pois não é esta a principal função da autoridade monetária, do Banco Central, manter a inflação a níveis civilizados? Se a inflação está controlada – e está – uma parte disso ao menos se deve ao Banco Central, a Campos Neto.
E no entanto, não são tais evidências que orientam o humor de Lula da Silva em relação ao BC e ao seu presidente. O conflito é um malbarato de tempo e energia. Uma batalha de palavras, essas armas poderosas, porém voláteis, caprichosas, traiçoeiras, que precisam ser usadas com prudência e comedimento, para que não causem mais danos do que os que já existem de fato.
titoguarniere.terra.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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