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Colunistas As relações do poder com a mídia

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Não importa que governo seja, a imprensa bate parelho. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Tenho escrito com alguma assiduidade sobre as relações do poder com a mídia. Não há nenhum detentor de poder que não olhe a mídia com desconfiança. É normal: não há como exercer a mais ínfima parcela de mando sem um grau qualquer de paranoia face aos meios de comunicação. Os poderosos, os governantes, do alto de suas cadeiras, encaram os jornalistas como personagens mal humorados, sempre prontos a atirar a primeira pedra, a segunda e as demais.

Há alguma razão para a suspeita. Quem dispõe de um teclado para digitar a palavra e um meio onde possa divulgar o que escreveu, se vê como um paladino da verdade e da justiça, a quem não cabe a conciliação, o elogio, senão a crítica, tanto quanto possível acerba e plena de ira santa. Eles, os jornalistas, não raro avaliam a si próprios como porta-vozes da sociedade, a voz dos que não têm voz.

É bom que assim seja. Mas isso só é possível na democracia, com a vigência plena da liberdade de imprensa, de opinião, de pensamento. É uma dos pilares da democracia, sinal categórico que diferencia os regimes democráticos dos regimes ditatoriais.

Os governantes convivem meio a contragosto com esse pequeno exército de abelhudos, espalhados nas redações, que não dá folga nem sossego diante das derrapadas, dos tropeços e tombos dos graúdos. E eles, os governantes, por espírito autoritário, por déficit de atenção, por burrice, e sei lá o que mais, simplesmente não compreendem as razões da mídia: acham que ela só existe para tirar-lhes a paz, para apontar-lhes o dedo acusador diante da mais leve infração.

Vejam Lula. Se elegeu por uma margem apertada de votos. Em grande parte, porque era o titular legítimo de um acervo de milhões de votos. Mas ele teria ganho a eleição se a mídia nacional, a grande imprensa não tivesse diuturnamente, denunciado a teimosia negacionista, as tiradas grosseiras, as mentiras, os malfeitos de toda ordem de Bolsonaro, durante todo o seu tempo de governo?

O que me impressiona é que nos sites, blogs e inserções no Youtube dos seguidores de Lula, dos petistas em geral, há sempre uma referência depreciativa à “mídia burguesa”, à subordinação suposta da grande imprensa aos interesses dominantes, ao conluio para combater os propósitos e as ações “progressistas” – uma conspiração permanente contra os interesses do povo pobre e trabalhador.

Mas observem: as críticas dos progressistas contra a mídia é a mesma da direita bolsonarista, só que de sinal trocado. Me pergunto se eles, das facções em luta, não chegaram a constatar o que é a rotina imutável: os jornais, a grande imprensa, estão em vigília permanente para apresentar a denúncia, demonstrar a contradição, combater as tramoias do poder. Não importa que governo seja, a imprensa bate parelho.

O que acontece é que os poderosos da hora, os governantes de plantão, as “otoridades”, não suportam serem observados e avaliados. Eles não têm a obrigação de gostar. Mas eles que se danem. Como dizia o saudoso dirigente corintiano Vicente Matheus, quem está na chuva é para se queimar.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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