Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 10 de setembro de 2021
“Para mim, o veganismo não é uma linha reta. Hoje em dia me sinto feliz por não ter mais recaídas, mas elas aconteceram no começo”, confessa Luísa Motta, de 22 anos, uma das influenciadoras veganas mais conhecidas do país. Dona do canal de receitas Larica Vegana, ela tem cerca de meio milhão de seguidores no Youtube, onde prepara de bacalhoadas sem peixe a fondue vegano.
O interesse pelo veganismo mais que dobrou online entre 2015 e 2021, segundo o Google. E a tendência se reflete à mesa: pesquisa do Ipec (antigo Ibope) divulgada em agosto mostrou que 46% dos brasileiros não comem carne por opção ao menos uma vez na semana e 32% preferem a alternativa vegana, em restaurantes em que é ofertada.
A redução ou eliminação do consumo de produtos animais têm sido apontada em estudos como um caminho para garantir a sobrevivência do planeta, reduzir o sofrimento dos animais e melhorar a própria saúde.
“Eu nunca afirmaria que todas as pessoas se adaptam à dieta vegetariana estrita. Não falaria isso a respeito de nenhuma dieta. Existem pessoas que não se adaptam a uma dieta com carne também, como eu”, afirma Luisa.
Mas nem tudo são flores – ou folhas de couve ricas em antioxidantes: influencers que ganharam milhares de seguidores e muito dinheiro com feeds coloridos cheios de frutas, legumes e receitas veganas protagonizaram polêmicas e expuseram os riscos de se aderir ao estilo de vida só pelo hype e pelos likes.
O caso mais emblemático é o da californiana Yovana Ayres, a Rawvana (ou Cruvana, em português), que pregava a dieta vegana crudívora até 2019. Ostentava três milhões de seguidores – até ser flagrada em Bali comendo peixe e alegar motivos de saúde. Estava anêmica, não menstruava há meses e enfrentava problemas intestinais. Em um pedido de desculpas em meio ao cancelamento que sofreu, revelou que há pelo menos três anos não seguia a dieta que pregava em frente às câmeras como a mais saudável.
A australiana Bonny Rebecca, outra influencer que abandonou o veganismo em 2019 após alegar problemas digestivos e foi prontamente cancelada, hoje se diz traumatizada com as críticas que recebeu da comunidade após a decisão. Em seu canal no Youtube, passou a defender que nem todo corpo se adapta ao veganismo.
“A ciência mostra que não há justificativa fisiológica, bioquímica ou nutricional que obrigue um ser humano a comer produtos animais. É escolha, não necessidade”, rebate Alessandra Luglio, nutricionista especializada em veganismo e referência na área.
Presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, o médico Durval Ribas discorda que a dieta seja para todos. Segundo ele, todo fenômeno biológico está inserido na curva gaussiana, que prevê que 16% das pessoas respondem bem a terapias médicas, incluídas as intervenções nutricionais – a porcentagem aproxima-se dos 14% de brasileiros que declararam ser vegetarianos em pesquisa do IBOPE de 2018. Outros 16% respondem muito mal a esses tipos de mudanças. São, segundo Ribas, aqueles que não conseguiriam levar o cardápio sem carne adiante. E 68% podem ou não conseguir fazer o mesmo. As chances de adesão são menores quanto mais restrita a dieta, diz.
Em comum, os especialistas concordam que uma alimentação equilibrada, com verduras e frutas em abundância, melhora a saúde. E quem optar pela transição deve fazê-la com calma e muita informação sobre como fazer boas substituições.
Como fazer a transição
Estudos científicos indicam que veganos teriam menor nível de colesterol, 15% menos chances de câncer e risco menor de infarto e diabetes do tipo 2. Os impactos sobre o planeta também são atenuados: juntas, as indústrias de carne e laticínios são responsáveis por 14,5% do total de emissões de gases estufa, segundo a ONU.
Mas alguns dos riscos de quem decide fazer a transição pelos modismos, sem acompanhamento médico e informação, são piora na saúde, desequilíbrios nutricionais (como carência de vitamina B12) e autocobrança excessiva. Para quem quer apostar na mudança mais pela saúde, empatia com animais e preocupação ambiental do que pelos likes, os especialistas defendem que há um caminho com equilíbrio a ser trilhado.
Para a nutricionista vegana Alessandra Luglio, calma é a chave. Ela recomenda reduzir aos poucos os produtos animais e atentar para as mudanças na disposição e sensação de fome. Muito cansaço, fome ou sono podem ser alertas para ajustes necessários no tamanho das porções ou seus macronutrientes (como proteínas e carboidratos). O bife que era a estrela do prato pode dar a vez para verduras, leguminosas e grãos. Pizza, hambúrguer e coxinha vegana estão liberados – mas nos finais de semana e ocasiões especiais, como recomendado na dieta carnívora.
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