Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2020
Em meio a uma das maiores pandemias da história, os conselhos regionais de Farmácia do País encomendaram uma pesquisa que constatou aumento significativo nas vendas de remédios relacionados ao coronavírus no primeiro trimestre do ano, em comparação ao mesmo período. Dentre os destaques estão os medicamentos à base de hidroxicloroquina, cuja demanda cresceu quase 63% no Rio Grande do Sul.
De acordo com o CRF (Conselho Regional de Farmácia) gaúcho, a situação é preocupante em relação à essa substância, indicada para doenças como o lúpus eritematoso. Da mesma forma que a cloroquina (indicada para a malária, porém disponibilizada apenas na rede pública), há risco de problemas de visão, convulsões, insônia, diarreias, vômitos, alergias graves, arritmias e até parada cardíaca.
Vale ressaltar que tanto para uma quanto para outra, o uso por pacientes internados com teste positivo para coronavírus ainda não conta com evidências representativas no que se refere à sua eficácia. Portanto, a ingestão não pode ser realizada sem supervisão e prescrição médica, mediante retenção da receita pela farmácia.
A vitamina C ou ácido ascórbico, que teve propagado em fake news o seu “efeito preventivo” contra Covid-19, foi a campeã de comercialização. Também foi verificado uma alta no consumo da vitamina D. O levantamento analisou, ainda, remédios que não precisam de prescrição e que têm sido indicados para amenizar sintomas leves da doença. No caso do Ibuprofeno, as vendas caíram, provavelmente porque o medicamento, por um breve período, foi relacionado ao agravamento de casos de coronavírus.
“Os resultados dão uma clara demonstração da influência do medo sobre um hábito consagrado entre a população brasileira, o uso indiscriminado de medicamentos”, sublinha o CRF-RS.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha constatou que a automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros que fizeram uso de medicamentos nos últimos seis meses anteriores ao estudo, feito em 2019. Quase metade (47%) se automedica pelo menos uma vez por mês, e um quarto (25%) o faz todo dia ou pelo menos uma vez por semana.
Risco geral
Os conselhos de Farmácia alertam que todos os medicamentos oferecem riscos. Mesmo os isentos de prescrição podem causar danos, especialmente se forem usados sem indicação ou orientação profissional. Dependendo da dose o paracetamol pode causar hepatite tóxica. A dipirona oferece risco de choque anafilático e o ibuprofeno é relacionado a tonturas e visão turva.
Já o uso prolongado da vitamina C pode causar diarreias, cólicas, dor abdominal e dor de cabeça. E com a ingestão excessiva de vitamina D, o cálcio pode depositar-se nos rins e até causar lesões permanentes.
A presidente da entidade no Rio Grande do Sul, Silvana Furquim, destaca que, quando uma epidemia acontece, a farmácia é o estabelecimento que está na linha de frente e tem uma responsabilidade crucial na proteção à saúde da população:
“Elas são frequentemente o primeiro ponto de contato com o sistema de saúde para quem tem preocupações relacionadas à saúde ou, simplesmente, necessita de informação e um aconselhamento confiável. Além disso, elas tornaram-se parte indispensáveis ao sistema público de saúde”.
(Marcello Campos)