Sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de fevereiro de 2025
Um dia após a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusar Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas de tentativa de golpe de Estado, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo da delação do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid. Em um dos depoimentos, o antigo auxiliar do Palácio do Planalto afirmou que “recebeu e repassou” dados a Bolsonaro sobre o monitoramento de Moraes. Ainda de acordo com Cid, a ordem para a vigilância, em ao menos uma das ocasiões, veio do próprio ex-presidente.
Segundo as investigações da Polícia Federal (PF), em dezembro de 2022 Moraes estava sendo seguido por agentes e assessores presidenciais. A ação, segundo a corporação, fazia parte de um plano para manter Bolsonaro no poder e evitar a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Cid afirmou que o monitoramento de Moraes foi determinado pelo ex-presidente porque ele desconfiava que o ministro estava se encontrando com o então vice-presidente Hamilton Mourão, que havia virado seu desafeto.
“Um dos motivos foi o fato de que o então presidente havia recebido uma informação de que o general Mourão estaria se encontrando com o ministro Alexandre de Moraes em São Paulo. Que foi uma maneira de verificar se essa informação era verdadeira ou não”, afirma Cid na delação.
Este depoimento foi prestado na presença de Moraes, que perguntou se não seria mais fácil olhar a agenda do então vice-presidente. Cid disse que isso também foi feito.
“O presidente recebia muita informação, muitos informes pelo celular dele. E pelo perfil dele, já ficava nervoso, irritado e mandava verificar. Às vezes, ele (Bolsonaro) aloprava”, disse Cid.
A PF indagou ao tenente-coronel se havia outro motivo para o acompanhamento de Moraes, já que os passos dele foram seguidos ao longo de todo o mês de dezembro. Cid respondeu que desconhecia outra razão.
As informações sobre as movimentações do ministro foram fornecidas a Cid pelo ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara. Nas mensagens trocadas entre ambos, Moraes é chamado pelo codinome “professora”.
“(Cid diz) que apenas recebeu os dados (da localização de Moraes) e repassou ao então Presidente Jair Bolsonaro, que não repassou os dados a nível detalhe, mas informou de modo geral que o ministro Alexandre de Moraes estaria em São Paulo”, diz trecho do depoimento de Cid. “E o último monitoramento, a gente faz aquela brincadeira, né, professora tal, foi… essa aí foi o presidente que pediu. Essa aí foi o próprio presidente que pediu”, complementou Cid, sobre o monitoramento em dezembro.
Na delação, Cid não faz menção à possibilidade de Bolsonaro ter participado do plano Punhal Verde e Amarelo, que tratava, segundo a PGR e a PF, de ação para matar Moraes, Lula e o vice Geraldo Alckmin.
O procurador-geral, Paulo Gonet, afirma na denúncia que Bolsonaro “anuiu” com o plano. Para embasar a conclusão , contudo, o chefe do Ministério Público só cita uma mensagem do general da reserva Mario Fernandes. Lotado na ocasião na Secretaria-Geral da Presidência, o militar enviou a Cid, pelo WhatsApp, o texto de que Bolsonaro havia concordado que “qualquer ação nossa” poderia ocorrer até 31 dezembro, o que seria o planejamento dos crimes.
Cid também apontou na delação que a ordem de monitoramento de Moraes pode ter sido motivada por um suposto encontro entre Moraes e o governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas.
“Talvez, o Tarcísio, eu não sei. Porque muitas (informações), ministro, chegavam de pessoas que diziam que o ministro Alexandre de Moraes está reunido com o Tarcísio num prédio em São Paulo”, disse.
Cid ainda afirmou que, quando havia desconfiança da lealdade de um aliado, Bolsonaro costumava ligar para o próprio ministro ou “mandava a gente verificar” se a notícia procedia.
O responsável por fornecer informações sobre as movimentações de autoridades era o coronel Câmara.
Os investigadores consideraram o monitoramento de Moraes, porém, como uma prova de que estava em curso um plano para “neutralizá-lo”. Um documento impresso no Planalto por Mario Fernandes reforçou essas suspeitas. O texto previa ações de acompanhamento de “locais de frequência e estadia”, veículos e seguranças que faziam a escolta de Moraes.
O texto também estipulava recursos, efetivo e armamento de guerra para capturar e “neutralizar” Moraes. Além dele, o texto falava em matar o presidente Lula e Alckmin. As informações são do jornal O Globo.