Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2024
Assassino confesso de Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa afirmou, em delação premiada, que quase matou a vereadora três meses antes do crime que tirou a vida dela. De acordo com o ex-policial militar, ela estava em um bar na Praça da Bandeira, no Rio. Ele afirmou que, na ocasião, “perdeu a oportunidade”.
Nessa sexta-feira (7), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a transferência de Lessa para o presídio de Tremembé, em São Paulo. O ex-PM estava no presídio de Campo Grande (MS). O ministro ainda retirou sigilo de parte de delação.
Em um desses vídeos cujo sigilo foi retirado Lessa conta detalhes da preparação do crime. Ele afirma que não matou a vereadora nesse bar porque um comparsa não chegou a tempo. O homem é Edmilson Oliveira da Silva, conhecido como Macalé, apontado como interlocutor dos executores com os mandantes do crime. Macalé foi morto em novembro de 2021.
Lessa e Élcio de Queiroz foram presos juntos em março de 2019, suspeitos de serem os assassinos. Élcio foi o primeiro a delatar e confessou ter participado do crime, dirigindo o carro usado para matar Marielle e o motorista Anderson Gomes, em fevereiro de 2018.
Lessa confirmou o que as investigações já mostravam, que ele pagava uma espécie de mesada ao comparsa mesmo após os dois serem presos.
Casa da vereadora
Na delação, Lessa também afirmou que o crime não ocorreu na casa de Marielle por ser um endereço muito policiado. Assim, os executores decidiram que a emboscada deveria ser em outro lugar.
“Endereço dela era um lugar muito difícil. Com policiamento e sem estacionamento. Tentativas sem êxito levaram que a gente procurasse outros meios”, disse Lessa aos policiais.
“A gente já tinha informações sobre endereço dela, e a partir dali nós tentamos que fosse feito a partir dali, tentamos algumas vezes em vão dar prosseguimento ao fato, só que sem sucesso. ali é uma área de difícil acesso, não tem onde parar, tem policiais andando na calçada, ali é um lugar difícil de monitorar”, continuou o executor confesso do assassinato da vereadora.
Dia da emboscada
A emboscada contra Marielle acabou ocorrendo na saída dela de um evento na Casa das Pretas, no Estácio, bairro do centro do Rio de Janeiro.
Lessa contou ainda que, no dia do crime, recebeu ligação de um outro homem que participou dos preparativos, identificado como Macalé. Na ligação, Macalé disse que não era mais possível ficar adiando o crime, porque estava ficando “estranho”. E passou onde Marielle estaria naquela noite.
Lessa disse ainda que foi neste momento que Élcio Queiroz, também preso por ser mandante, foi chamado para a emboscada.
“Dia 14, no dia do crime, eu recebi a ligação do Macalé. ‘Tenho uma novidade, cara. É hoje, e eu não estou aí’. Eu falei: ‘Tudo bem, vou acionar aquele amigo lá [Élcio] que estava aguardando o contato para cobrir’. ‘Tem que ser hoje, tem que ser hoje. Porque está ficando estranho, era pra ter acontecido’, relatou Lessa, reportando as palavras de Macalé.
Mandantes do crime
Durante o depoimento, Lessa identificou Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, e Chiquinho Brazão, deputado federal, como mandantes. Segundo Lessa, os Brazão ofereceram como pagamento um loteamento clandestino na Zona Oeste do Rio, avaliado em mais de 20 milhões de dólares.
Os irmaõs Brazão foram presos pela PF.
Lessa também detalhou reuniões preparatórias, nas quais Marielle foi descrita como um obstáculo aos planos dos Brazão. A falta de registros das operadoras de celular antes de 2018 impediu a confirmação desses encontros pelas autoridades.
A defesa dos irmãos Brazão negou as acusações, chamando-as de tentativa de Lessa de obter vantagens judiciais. Além disso, Ronnie Lessa mencionou Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Delegacia de Homicídios do Rio, como parte do plano para proteger os mandantes do crime. Lessa afirmou que Barbosa foi instruído a desviar as investigações.
Barbosa foi promovido a chefe de polícia um dia antes do assassinato de Marielle e indicou Giniton Lajes para comandar a Delegacia de Homicídios. Segundo a Polícia Federal, a nomeação de Lajes foi parte de uma estratégia para interferir nas investigações.