Cerca de 21% dos brasileiros admitem ter presenciado episódios de assédio sexual cometidos contra mulheres durante o ano de 2022. O dado foi divulgado nesta semana, pelo levantamento “International Women’s Day”, realizado pelo instituto de pesquisa de mercado Ipsos e pela Universidade King College, em Londres.
Para a pesquisa, foram entrevistados mil brasileiros, que participaram do estudo respondendo perguntas entre os dias 22 de dezembro do ano passado e 6 de janeiro deste ano. O levantamento mundial teve participação de 22.508 pessoas, ao todo, com idade entre 16 e 74 anos.
O Brasil ocupa a oitava posição no ranking da categoria de pessoas que viram ou presenciaram alguém assediando uma mulher durante o ano de 2022. A média global é 14%.
O país com recorde é a Tailândia, onde aproximadamente 30% dos entrevistados afirmaram ter visto mulheres submetidas a situações de assédio sexual no ano passado.
O país do sudeste asiático é seguido pelo Peru e pela Índia, onde os resultados foram de 29% e 28%, respectivamente. Nas últimas colocações do ranking estão a Itália, a Polônia, a Hungria e o Japão. A Itália teve 8% de testemunhas de assédio sexual; a Polônia e a Hungria empatam em 6%; e o Japão, país com menos relatos, chega a 4%, apenas.
Casos de assédio
Em outra frente, quase metade das brasileiras (46,7%) sofreu algum tipo de assédio sexual no ano passado, mostra pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada recentemente. O índice é o maior da série histórica do levantamento, que teve início em 2017. Comparando com os dados do ano passado, houve um aumento de nove pontos percentuais nos casos de assédio.
De acordo com o instituto, quatro em cada 10 mulheres afirmam ter recebido cantadas ou comentários desrespeitosos enquanto andavam em alguma via. Outras 18,6% ouviram cantadas ou comentários impertinentes no ambiente de trabalho, enquanto 12,8% sofreram assédio no transporte público e 11,2% foram abordadas de maneira agressiva durante uma balada ou festa.
O estudo aponta ainda que o assédio é proporcionalmente maior entre mulheres jovens. Na faixa etária de 16 a 24 anos, 76,1% passaram pela situação no último ano.
Em relação à escolaridade, 31,8% das mulheres com ensino fundamental relataram alguma forma de assédio em 2022. Entre as mulheres com nível superior, esse percentual chegou a 59,7%. A discrepância, segundo a pesquisa, pode estar ligada à compreensão do que é assédio, definição que pode variar na percepção de uma mulher para outra.
“É provável que mulheres mais jovens e que passaram pela faculdade estejam mais engajadas em debates sobre os direitos das mulheres e, portanto, tenham uma compreensão mais ampla do que significa assédio sexual”, diz o levantamento.
A pesquisa quantitativa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil” aponta para o recrudescimento da violência contra a mulher no país: quase 30% das brasileiras sofreram algum tipo de violência de gênero em 2022, resultado recorde para a série histórica da pesquisa.
Pela estimativa do instituto, cerca de 18,6 milhões de mulheres brasileiras com 16 anos ou mais sofreram atos de violência no ano passado. Entre as que relataram violência, há uma média de quatro agressões por ano. Porém, o número salta para nove se consideradas apenas as divorciadas.
“(Contribuiu para o aumento da violência) a redução de financiamento das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, que não começou no governo (Jair) Bolsonaro, mas ocorre desde a última década, muito embora os dados estejam mostrando um aumento da violência ao longo dos anos”, afirma Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Segundo ela, a ascensão da extrema direita também ajuda a explicar o cenário: “Faz com que temas como desigualdade de gênero sejam combatidos”, explica.
O Datafolha entrevistou 2.017 pessoas com mais de 16 anos em 126 municípios brasileiros no período de 9 a 13 de janeiro de 2023. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. As informações são do jornal O Globo.