Marcelle Decothé da Silva, assessora especial de assuntos estratégicos do Ministério da Igualdade Racial, foi demitida da pasta nessa terça-feira (26). No domingo (24), enquanto acompanhava a ministra Anielle Franco em uma agenda oficial, ela debochou e ofendeu a torcida do São Paulo Futebol Clube e os paulistas.
“Torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade… pior de tudo pauliste”, escreveu a assessora nas redes sociais, usando adjetivos em linguagem neutra. As declarações repercutiram mal e a ministra telefonou para os presidentes do São Paulo e da torcida Independente para pedir desculpas. A Independente pediu a demissão da assessora.
Em nota, a pasta disse que “as manifestações públicas da servidora em suas redes estão em evidente desacordo com as políticas e objetivos do ministério” e que a demissão de Decothé foi para “evitar que atitudes não alinhadas a esse propósito interfiram no cumprimento de nossa missão institucional”. Ela ocupava o cargo de chefe da assessoria especial do Ministério.
Um comitê interno foi criado para investigar a conduta de Decothé e das demais assessoras da pasta. “Recém-instalado pelo Ministério, o Comitê de Integridade, Transparência, Ética e Responsabilização – instância interna de debate e sobre situações que envolvam temas de transparência, integridade pública, ética e questões disciplinares de caráter abrangente – vai investigar o caso”, diz a nota que anuncia a demissão da assessora.
Além dela, outras funcionárias do Ministério apareceram em publicações debochando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), como mostrou o Estadão. “30 segundos de diálogo com a CBF, já viraram patriotas. Prontas pro cancelamento”, escreveu a assessora demitida nas redes.
Ela também apareceu em stories de outra assessora, Luna Costa, abrindo uma camiseta do Flamengo no meio da torcida são-paulina e correndo com uma pasta com o timbre do governo federal. Dentro, estava o documento que a ministra assinou com a CBF.
“Realidade = derrota do Flamengo + saindo andando com o protocolo de intenções do Gov Federal na mão + tentando achar transporte + gás lacrimogêneo + olho e boca ardendo”, escreveu Costa na imagem em que Decothé aparece com a pasta de documentos.
Parlamentares de oposição foram ao Ministério Público pedir que a entidade abra uma investigação criminal contra Decothé. Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Paulo Bilynskyj (PL-SP) acusam a agora ex-assessora de ter cometido o crime de discriminação, que pode ser punido com um a três anos de reclusão.
Caso
No domingo, Anielle Franco e um grupo de assessoras viajou a São Paulo usando um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para irem ao jogo da final da Copa do Brasil, no estádio do Morumbi, na capital paulista. O uso da aeronave colocou a ministra no centro de críticas por causa do alto custo da viagem, que pode ser até 70 vezes maior do que o de um voo comercial.
No evento, a ministra assinou um protocolo de ações antirracistas com a CBF. O ministro do Direitos Humanos, Silvio Almeida, também participou da cerimônia, mas foi a São Paulo em um voo comercial.
Franco disse que as críticas “configuraram violência política de gênero e raça, na tentativa de impedir o nosso trabalho”. A ministra também argumentou que “não são ataques a este ministério ou a mim, mas ao povo brasileiro”.
Na segunda-feira (25), começaram a repercutir as publicações das assessoras da pasta. As primeiras imagens publicadas por elas nas redes sociais debochando da torcida são-paulina e da CBF foram exibidas pelo jornal O Estado de S. Paulo. Usuários do X (antigo Twitter) subiram a hashtag (símbolo que reúne publicações sobre o mesmo assunto) #ForaAnielleFranco por causa do episódio. Até o final dessa terça, ela reunia mais de 18 mil publicações.