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Política Assim como Bolsonaro tentou transformar o 7 de Setembro em feriado comemorativo do bolsonarismo, Lula quer fazer da data de lembrança do ataque a Brasília um dia de louvação a si mesmo e ao PT

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Lula sabe muito bem que politizar o 8 de Janeiro significa manter viva a chama golpista que anima Jair Bolsonaro e seus apoiadores. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Aconteceu exatamente como todos esperavam: o presidente Lula da Silva politizou de vez o 8 de Janeiro. A exemplo do que fez seu antecessor e antípoda, Jair Bolsonaro, que tentou transformar o 7 de Setembro em feriado comemorativo do bolsonarismo, o petista quer fazer da data de lembrança do ataque à sede dos Três Poderes um dia de louvação a si mesmo e ao PT, como esteios da democracia.

O constrangedor ato no Palácio do Planalto em memória daquela data fatídica, seguido de um encontro com meia dúzia de gatos-pingados reunidos na Praça dos Três Poderes pelo PT e centrais sindicais ligadas ao partido, esteve muito mais próximo de um evento de campanha do que de uma solenidade institucional, impessoal e republicana conduzida pelo chefe de Estado e de governo para lembrar do mais sórdido ataque à ordem constitucional vigente no País há quase 40 anos.

A patacoada já tem lugar na história não pela cerimônia em si, mas por mais uma gafe de Lula – que, ao se declarar “amante da democracia”, enfatizou que “os amantes são mais apaixonados pela amante do que pelas mulheres”.

A ninguém é dado o direito de se surpreender, em se tratando de Lula, que transforma qualquer ocasião de Estado em palanque eleitoral. Afinal, para o chefe de um governo sem cara, vale dizer, sem um projeto de país coerente, responsável e exequível para apresentar ao País, malgrado já ter iniciado a metade final de seu mandato, parece não restar alternativa a não ser posar como o único líder político capaz de “salvar a democracia” de seus inimigos, notadamente os bolsonaristas, o que é uma rematada falácia.

Lula sabe muito bem que politizar o 8 de Janeiro significa manter viva a chama golpista que anima Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Os bolsonaristas, que também dependem desse antagonismo, não perderam a oportunidade de usar a efeméride para, mais uma vez, pugnar pela anistia aos golpistas. Tratase, portanto, de um jogo eleitoral do qual os únicos beneficiários são Lula e Bolsonaro, malgrado este estar inelegível até 2030.

A memória do 8 de Janeiro, é sempre bom lembrar, não pertence a Lula nem muito menos ao PT ou a qualquer outro partido. A insurgência de bolsonaristas contra o resultado da eleição presidencial de 2022 pertence à história do Brasil. E assim, de forma institucional e republicana, haverá de ser lembrada no futuro, insubmissa aos desígnios políticos dos mandatários de turno.

É inegável que Lula teria sido uma das principais vítimas caso a tentativa de golpe prosperasse. Segundo a Polícia Federal, alguns militares da ativa e da reserva são suspeitos até de preparar um plano para assassiná-lo a fim de impedir sua posse. Mas não se pode esquecer que, ao longo de toda a sua vida pública, Bolsonaro sempre esteve imbuído de um espírito golpista, o que significa dizer que, ainda que fosse outro o candidato oposicionista a lhe impor a derrota naquele pleito, o desfecho da irresignação violenta, muito provavelmente, teria sido o mesmo. Por maior que seja, o ódio de Bolsonaro a Lula é menor do que seu desprezo pela Constituição de 1988, o marco jurídico que tirou o País dos grilhões da ditadura militar que ele tanto louva.

A ausência dos chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário, além de outras altas autoridades da República, é eloquente por si só a respeito da politização do ato convocado por Lula. Em contraste, recorde-se do evento que marcou o primeiro aniversário do 8 de Janeiro, realizado no Congresso, símbolo maior de nossa democracia representativa, que há um ano dera o tom correto à condenação daquele ataque desabrido e, principalmente, à defesa da democracia.

Mas Lula é irremediável. Nunca esteve em seu horizonte separar os assuntos de Estado e de governo, que dirá o melhor interesse público, de seus interesses particulares ou os de seu partido. Pode-se dar como favas contadas uma nova pajelança em torno do petista em 8 de janeiro de 2026, ano em que, ao que tudo indica, Lula disputará a reeleição, atraindo para si as atenções que deveriam estar voltadas a algo mais nobre do que seu futuro político: a reafirmação do compromisso institucional com a preservação do Estado Democrático de Direito no Brasil. (Estadão Conteúdo)

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