Assim que se confirmou a morte do ativista russo Alexei Navalni em uma prisão no Ártico, os governos dos Estados Unidos e de vários outros países do Ocidente apontaram o dedo para um culpado: Vladimir Putin. Não apenas pela lista de dissidentes que perderam a vida de modo suspeito nos últimos anos, mas também porque falta menos de um mês para a eleição que deve dar o quinto mandato ao líder do Kremlin.
O presidente norte-americano declarou não haver “qualquer dúvida” sobre o envolvimento da autoridade máxima de Moscou no caso: “Não se enganem, ele é responsável. Isso é resultado de algo que Putin e seus capangas fizeram”, frisou Joe Biden mesmo sem saber os detalhes de como ocorreu o óbito”.
A notícia teve impacto também na política interna dos Estados Unidos. Alguns republicanos lamentaram a morte de Navalni e criticaram membros do próprio partido que simpatizam com o Kremlin (inclusive o ex-presidente Donald Trump, que até agora mantém silêncio sobre a polêmica).
“Putin é um criminoso de guerra. Não há espaço em nosso partido para apologistas de Vladimir Putin”, disse Mike Pence, vice-presidente na gestão de Trump (2017-2020).
A Europa também apontou o dedo. O Reino Unido considera o governo russo “totalmente responsável”. Na mesma linha, o ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, disse que “Navalni lutou por um país democrático, por isso Putin o torturou até a morte”. Quem também se manifestou foi o belga Charles Michel, presidente do Conselho Europeu: “O bloco considera o regime russo único responsável por essa morte trágica”.
Internamente, aliados russos de Navalni também pareciam chocados. O jornalista Dmitri Muratov, vencedor do Nobel da Paz de 2021, classificou a morte do ativista de “assassinato causado por maus-tratos, já que ele foi submetido a tortura durante três anos.”
A resposta do Kremlin foi imediata. O porta-voz Dmitri Peskov chamou os comentários ocidentais de “ultrajantes e inaceitáveis”. Segundo ele, ainda é preciso que os legistas esclareçam a causa do óbito, em uma investigação que tem a participação direta do próprio serviço penitenciário do país.
Perfil
Alexei Navalni, 47 anos, era advogado e se tornou conhecido internacionalmente por denunciar corrupção em estatais e fraudes eleitorais na Rússia governada com mão-de-ferro por Vladimir Putin desde 1999.
Há 12 anos, criou uma ONG anticorrupção e se tornou líder dos protestos contra os desmandos do Kremlin. Ele quase morreu envenenado em 2020, durante um voo entre a Sibéria e Moscou. Depois de ser atendido na Rússia, foi internado na capital alemã Berlim – testes constataram a presença do agente nervoso Novichock, desenvolvido pela União Soviética (1917-1991).
Em 2021, Navalni voltou para a Rússia. Acabou detido e sentenciado a 19 anos de cadeia por organizar atividades “extremistas”. Outras condenações se acumularam, demonstrando que tão cedo ele não sairia da cadeia. Transferido para uma prisão no Ártico em dezembro, ele parecia bem na última quinta-feira (15), quando compareceu a uma audiência on-line.
Um comunicado emitido pelo centro penitenciário relatou que o ativista perdeu a consciência após uma caminhada. Os médicos do Hospital Municipal de Labytnang, onde ele chegou a ser atendido, mencionaram uma tentativa de reanimação por mais de 30 minutos, sem sucesso.
Conhecida como Lobo Polar, a prisão está localizada em Kharp, acima do Círculo Polar Ártico, onde as temperaturas chegam a -30ºC. A colônia penal foi construída na década de 60, no lugar onde ficava o gulag 501, um dos campos de trabalho forçado do regime do ditador Josef Stalin (1922-1953. O complexo costuma abrigar condenados por crimes violentos e dissidentes políticos.