Pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), liderados pelo neurocientista Reza Rajimehr, realizaram a primeira tentativa de mapear as redes cerebrais durante momentos mais rotineiros, como assistir filmes. Ao contrário de muitos estudos que monitoram o cérebro em repouso, essa pesquisa focou em como o cérebro se comporta ao processar estímulos externos ricos, como os que encontramos nas telas de cinema. Durante o estudo, 176 participantes assistiram a 60 minutos de filmes, como “A Origem”, “Esqueceram de Mim” e “Ocean’s 11”, enquanto suas atividades cerebrais eram monitoradas por meio de ressonância magnética funcional (fMRI).
Descobertas cerebrais
Os cientistas identificaram 24 redes cerebrais distintas que foram ativadas durante a exibição dos filmes, cada uma associada a funções cognitivas específicas, como o reconhecimento de rostos ou a percepção de interações sociais. Essas redes também revelaram como o cérebro lida com diferentes tipos de cenas, como as mais complexas e as mais simples.
Quando os participantes assistiam a cenas desafiadoras, como um plano complicado de assalto, as áreas responsáveis pelo controle executivo, resolução de problemas e tomada de decisões se tornavam mais ativas. Já em cenas mais tranquilas, como diálogos simples, regiões cerebrais especializadas no processamento de linguagem dominavam.
Essa pesquisa não só amplia o conhecimento sobre a atividade cerebral em situações cotidianas, como assistir a um filme, mas também pode ter implicações para a compreensão de distúrbios neurológicos, como esquizofrenia ou autismo.
Além disso, Rajimehr sugere que as descobertas possam até ajudar cineastas a criar filmes mais envolventes, ao entender melhor como os espectadores processam cenas específicas.
Essa análise do cérebro em movimento, associada ao comportamento humano diante de estímulos cinematográficos, apresenta um novo marco na neurociência funcional e abre portas para futuras inovações tanto no campo da saúde quanto da arte.
Filme de terror
Em artigo publicado pela The Conversation, a pesquisadora e professor de psicologia na Universidade Estadual de Penn, Sarah Kollat afirma que criar o medo em vidas que, de outra forma, são seguras pode ser agradável – e é uma maneira de as pessoas praticarem e se prepararem para perigos reais.
“Para algumas pessoas, essa fascinação pelo terror pode parecer insensível. Tiroteios em escolas, abuso infantil, guerra – a lista de horrores reais é interminável. Como psicóloga do desenvolvimento que escreve suspenses sombrios nas horas vagas, acho fascinante a interseção entre psicologia e medo. Para explicar o que impulsiona essa fascinação, aponto a teoria de que as emoções evoluíram como uma experiência universal entre os humanos, pois nos ajudam a sobreviver”, afirma.
A empresa de atrações de Halloween America Haunts estima que os americanos gastam mais de US$ 500 milhões anualmente (R$ 2,8 bilhões na cotação atual) em entradas para casas assombradas, apenas pelo privilégio de serem assustados. E muitos fãs de terror não limitam seu entretenimento a essa época do ano, devorando filmes, séries e livros com a temática o ano todo.
Em um estudo, pesquisadores descobriram que pessoas que visitaram uma casa assombrada de alta intensidade, como experiências de medo controlado, exibiram menor atividade cerebral em resposta a estímulos e menos ansiedade após a exposição. Esse achado sugere que assistir a filmes de terror, histórias assustadoras ou jogos de videogame de suspense pode, na verdade, acalmá-lo depois. Esse efeito também pode explicar por que eu e meu marido escolhemos relaxar assistindo a séries de zumbis após um dia agitado no trabalho.
Experiências de medo controlado – onde você pode desligar a TV, fechar o livro ou sair da casa assombrada quando quiser – oferecem a sensação física provocada pelo medo, sem riscos reais.
Quando você se sente ameaçado, a adrenalina aumenta em seu corpo, e a resposta de luta ou fuga é ativada. Sua frequência cardíaca acelera, você respira mais fundo e rápido, e a pressão arterial aumenta. Seu corpo está se preparando para se defender do perigo ou escapar rapidamente.
Essa reação física é crucial ao enfrentar uma ameaça real. Ao experimentar o medo controlado – como sustos em uma série de zumbis – você pode aproveitar essa sensação de energia, semelhante à euforia de um corredor após uma corrida, sem nenhum risco. E, depois que a ameaça passa, seu corpo libera o neurotransmissor dopamina, que traz sensações de prazer e alívio. As informações são do jornal O Globo.