Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2025
O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Galassi, criticou “mentiras” difundidas nos últimos dias contra a proposta do setor para flexibilizar a validade de alimentos no País. Galassi ressaltou que a mudança não incluiria carnes ou outros alimentos perecíveis, tampouco traria riscos à segurança alimentar.
“Se ficamos nessa discussão ideológica, falando inverdades, como ‘o governo está propondo vender carne vencida’, é mentira. Fico chateado. Não é assim que vamos avançar numa discussão séria para o País”, disse o presidente da Abras.
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), por exemplo, sugeriu que seria autorizado vender carne vencida. “A picanha não veio, e se vier será podre”, postou. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também falou do tema. “Cozinheiro gourmet para eles, picanha estragada para você. Assinado: o pai dos pobres”, publicou.
Questionado se essas mentiras foram divulgadas de má-fé, Galassi respondeu: “Eu ainda vou dar o direito da dúvida. Eu coloquei uma resposta no próprio post do Eduardo Bolsonaro sobre isso”. No comentário, o empresário explicou o conceito de “best before – melhor consumir até” defendido pela Abras, destacou a adoção do modelo no exterior e lembrou que o tema foi tratado no governo Bolsonaro com seriedade.
Recuo
Na quarta-feira (22), o governo Lula recuou e desistiu de analisar a flexibilização do prazo de validade de alimentos, em meio a críticas de opositores e aliados. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, começou o dia dizendo que o governo buscava fazer “intervenções” para baratear os alimentos, inclusive com sugestões da Abras. Horas depois, contudo, descartou qualquer alteração na validade dos alimentos. Galassi vai insistir na ideia e trabalhar pela apresentação de um projeto no Congresso.
A mesma medida já havia sido defendida pela Abras em 2021, durante a gestão Bolsonaro. Na ocasião, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou que a pasta participaria de um grupo de trabalho para avaliar a sugestão.
Projeto
A proposta busca adotar o conceito “consumir preferencialmente até” para alimentos industrializados e não perecíveis, a exemplo de macarrão, conservas e grãos. Após esse prazo, a comida continuaria adequada ao consumo, o que afetaria sua qualidade, mas não sua segurança alimentar, segundo Galassi.
“Produtos perecíveis, como carne, envolvem segurança alimentar. Então não podem ter o ‘consumir preferencialmente até esta data’. Agora, por outro lado, há produtos sem a questão de segurança alimentar, como um biscoito. O biscoito deixa de ser mais crocante após uma data, é só uma questão de qualidade, não tem risco à saúde. Então você deixa de desperdiçar esse alimento”, afirmou João Galassi, acrescentando que o Brasil é um dos poucos países do mundo a adotar somente a data de validade para todos os gêneros alimentícios.
No projeto de lei que pretende encaminhar neste ano ao Congresso, por meio da Frente Parlamentar de Comércio e Serviços, a entidade pretende citar exemplos ao redor do mundo que usam o modelo “consumir preferencialmente até”.
“Na França, que adota esse modelo, os mercados são proibidos de jogar fora esses produtos. Ou tem que baixar muito o preço, ou doar ou colocar para compostagem”.
Venda de remédios
A Abras busca ainda permitir que mercados possam vender medicamentos que não exigem receita médica. “Vamos reduzir os preços dos medicamentos, dar mais acesso e reduzir o impacto no SUS. Propomos também ter farmacêuticos nos mercados, presencial ou virtualmente. Esses remédios não exigem receita e já são vendidos livremente pela internet”, completou Galassi.
Outro objetivo da associação é frear a atuação das empresas de apostas esportivas, as bets. “As bets estão tirando dinheiro que as pessoas usam para comprar alimentos. As pessoas estão tirando do bolso um valor que não gera nada, não contribui em nada com o País”, disse o presidente da Abras.
“Na reunião que tive com o governo federal, em novembro passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, me disse que as bets movimentaram 0,5% do PIB no ano passado. Isso me assustou muito”. (Estadão Conteúdo)