No último sábado, o astronauta da Nasa (agência espacial norte-americana) Butch Wilmore, que ficará no espaço até novembro após falhas na cápsula que o levou à Estação Espacial Internacional, percebeu alguns ruídos estranhos saindo de um alto-falante dentro da espaçonave Starliner. O mistério intrigou os astronautas em órbita, que precisaram pedir ajuda dos técnicos em Houston, no Texas.
“Tenho uma pergunta sobre a Starliner”, Wilmore comunicou via rádio para o Controle da Missão, no Centro Espacial Johnson, em Houston. “Há um ruído estranho vindo do alto-falante… Não sei o que está causando isso.”
Wilmore disse que não tinha certeza se havia alguma anomalia na conexão entre a estação e a espaçonave causando o ruído, ou se era outra coisa. Ele pediu aos controladores de voo em Houston para verificarem se podiam ouvir o áudio dentro da espaçonave. Alguns minutos depois, o Controle da Missão respondeu via rádio que estavam conectados para ouvir o áudio dentro da Starliner, que agora está acoplada à Estação Espacial Internacional há quase três meses.
Flutuando dentro da Starliner, o astronauta colocou seu microfone próximo ao alto-falante dentro da espaçonave. Logo em seguida, um som bastante distinto pode ser escutado.
“Era como um ruído pulsante, quase como um som de sonar. Vou fazer mais uma vez, e deixarei vocês coçarem a cabeça para tentar descobrir o que está acontecendo. Certo, agora é com vocês. Chamem-nos se descobrirem o que é”
A gravação do áudio e da conversa de Wilmore com o Controle da Missão foi capturada e compartilhada por um meteorologista Rob Dale. Em nota, a Nasa explicou que o som pulsante ouvido pelo astronauta Butch Wilmore a bordo da Estação Espacial Internacional, parou. Segundo a agência, o ruído do alto-falante foi resultado de uma configuração de áudio entre a estação espacial e a Starliner.
“O sistema de áudio da estação espacial é complexo, permitindo que várias espaçonaves e módulos sejam interconectados, sendo comum a ocorrência de ruídos e feedbacks. A tripulação é orientada a contatar o controle da missão quando ouvir sons provenientes do sistema de comunicação. O feedback do alto-falante relatado por Wilmore não tem impacto técnico para a tripulação, a Starliner ou as operações da estação, incluindo a desacoplagem não tripulada da Starliner da estação, prevista para não antes de sexta-feira, 6 de setembro”, disse a agência.
Após mais de dois meses de impasses, a Nasa anunciou que os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams voltarão à Terra em fevereiro de 2025 com a missão Crew-9, da SpaceX de Elon Musk. Eles estão há mais de dois meses na Estação Espacial Internacional em uma missão que deveria durar cerca de oito dias. Os astronautas deveriam voltar na nave Starliner, da Boeing, que apresentou diversos problemas durante o atracamento na estação e, por isso, retornará sem tripulação.
Segundo a agência espacial americana, especialistas em engenharia e voo espacial da Nasa e da Boeing tomaram a decisão em conjunto, por avaliar que a espaçonave Starliner apresentaria muitos riscos aos astronautas.
A odisseia
Em 26 de junho, a Nasa afirmou que os astronautas não estão literalmente “presos” no Espaço e que o adiamento de sua partida da ISS é necessário para uma completa avaliação dos problemas técnicos da Starliner. As origens dos problemas estão no módulo de serviço da Starliner, uma seção da espaçonave que é descartada durante o retorno à Terra. Por isso, segundo a agência, os problemas precisam ser examinados enquanto a nave ainda está no espaço.
Dos problemas encontrados, a maior preocupação é a falha de múltiplos propulsores do sistema de controle de reação, que são essenciais para direcionar a Starliner durante sua partida da estação espacial e preparar a nave para uma queima crucial para a reentrada na atmosfera da Terra.
Nas últimas semanas, equipes terrestres da Nasa e da Boeing concluíram testes de um propulsor em um banco de testes em White Sands, Novo México. A agência e a empresa testaram os propulsores da espaçonave em órbita para verificar seu desempenho enquanto acoplados à estação espacial. A Nasa disse que os resultados preliminares desses testes foram úteis, mas seguiu adiando uma decisão final sobre o retorno dos astronautas.
Além da Revisão de Prontidão de Voo adiada, a Nasa repassou cerca de R$ 1,7 milhão para a SpaceX em 14 de julho para um “estudo especial de resposta a emergências”. Desde então, a agência enfrenta discussões internas vigorosas sobre se a tripulação deve ou não voar para casa na Starliner. Alguns engenheiros acreditam que, se houver dúvidas sobre a Starliner, então a Nasa deveria optar pelo caminho mais seguro – voltar na Crew Dragon, que já foi e voltou em segurança 12 vezes. As informações são do jornal O Globo.