Você acha o seu trabalho difícil? Pense então nos pobres astrônomos que tiveram de colher observações por 20 anos seguidos para descobrir apenas mais três planetas fora do nosso Sistema Solar. O Universo nem sempre colabora, mas graças a esse obstinado grupo da Universidade de Genebra vamos formando uma noção melhor da imensa variedade de sistemas planetários existentes lá fora.
Hoje em dia, não é incomum que projetos descubram planetas em baciadas. Entre 2009 e 2013, o satélite Kepler, da Nasa, colheu centenas deles todo semestre. Seu sucessor, o Tess, lançado há um ano, já está repetindo a dose. Já são até agora 10 mundos confirmados.
Tanto o Kepler quanto o Tess descobrem planetas pela técnica do trânsito, que envolve observar a pequena redução de brilho de uma estrela conforme um corpo planetário transita à sua frente, com relação a nós. É uma estratégia que se mostrou tremendamente eficiente, mas tem suas limitações. Por sua própria natureza, ela privilegia planetas com períodos orbitais curtos.
Uma olhada nas estatísticas dos sistemas planetários conhecidos faz parecer que o nosso é bizarro. Enquanto a maioria deles têm planetas com órbitas curtíssimas, de alguns dias, às vezes apenas horas, o Sistema Solar parece bem espaçado — o mais interno de seus mundos, Mercúrio, leva 88 dias para dar um laço ao redor do Sol. Nosso planeta gasta os costumeiros 365 dias. Júpiter, 12 anos. E Netuno, gloriosos 165 anos.
Estaríamos nós numa condição de raridade? A despeito das aparências, provavelmente não. O que temos, em vez disso, é um forte viés de observação. Para detectar planetas com órbitas longas, precisamos observar por um longo tempo, e a técnica de trânsito é menos eficaz para esses planetas. Os astrônomos de Genebra usaram outra estratégia, conhecida como medição da velocidade radial, para fazer seus achados.
Ela consiste em medir o efeito gravitacional que o planeta causa em sua estrela, levando-a a bambolear suavemente. Só que é preciso observar ao menos uma órbita inteira para identificar um corpo planetário assim. Com parte significativa da órbita, dá para já fazer um palpite informado. E isso explica por que conhecemos tão poucos planetas com períodos longos. Dos cerca de 4.000 exoplanetas já descobertos, apenas 36 têm órbitas mais longas que a de Júpiter. Com os 3 novos, fruto de observações iniciadas em 1998, agora são 39.
Diante dos dados incompletos, a melhor aposta no momento é no princípio copernicano — a noção de que é improvável que sejamos parte de algum extremo estatístico. Não duvide se, em mais algumas décadas, acabarmos descobrindo que sistemas mais espaçosos que o nosso são tão comuns quanto os supercompactos.
Tess
Na última quarta-feira (18), às 19h51min, partiu para o espaço o satélite Tess, da Nasa. Seu objetivo é descobrir milhares de exoplanetas ao redor das estrelas mais próximas do Sistema Solar — alvos adequados para futura caracterização por telescópios de próxima geração, no espaço e em solo. A expectativa é a de encontrar um punhado de planetas habitáveis e, no estudo posterior desses mundos, até mesmo identificar algum que de fato tenha vida. A empresa SpaceX foi contratada pela agência espacial americana para fazer o lançamento, a partir de Cabo Canaveral, na Flórida.
O lançamento do foguete Falcon 9 estava originalmente marcado para a última segunda-feira, mas foi adiado por dois dias para testes adicionais de controle e navegação pela SpaceX. O primeiro estágio realizou um pouso bem-sucedido na balsa após a missão.
Ao se estabelecer em sua órbita, o Tess deve vasculhar nada menos que 200 mil estrelas próximas em busca de mundos de porte comparável ao da Terra — uma larga amostra distribuída por 85% da abóbada celeste.
Proposto por um grupo do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ele fará algo que seus predecessores não fizeram: deve se concentrar em estrelas mais próximas do Sistema Solar. O objetivo agora é encontrar mundos suficientemente próximos para permitir que os novos telescópios espaciais e em solo possam estudá-los em detalhe.
É mais uma etapa num longo jogo para decifrar toda a natureza e variedade dos sistemas planetários que existem aí fora. Até 1995, ninguém sabia sequer se existiam mesmo outros mundos ao redor de estrelas similares ao Sol.
Descobrir os primeiros exoplanetas, na década de 1990, exigiu observar por longos anos estrelas individuais, até que se pudesse captar com convicção o sutil vaivém desses astros conforme planetas ao seu redor usassem sua gravidade para tirar a estrela para dançar, numa lenta e repetitiva valsa.